Mercado Financeiro

Bons Bilionários versus Maus Bilionários

Kobe Blog
Escrito por Kobe Blog em 01/02/2017
Bons Bilionários versus Maus Bilionários

Ao longo do último fim de semana, recebi mais de 20 mensagens de leitores me pedindo para comentar o caso Eike Batista.

A resposta para todos foi praticamente a mesma:

“Faço de tudo para ser o menos reativo possível e deixar o comentário de notícias para jornalistas. Quanto mais isolado de telejornais eu fico, melhor eu performo meu trabalho”

Se eu comentasse tudo o que tivesse na moda, eu ia ser mais um na multidão e cair no mesmo bolo de uns caras que eu critico.

Nos últimos 12 meses do blog MundoRaiam, eu só lembro de ter sido reativo uma única vez… e foi numa ocasião especial.

Escrevi o artigo A Tragédia do Jeitinho quando o Brasil ainda estava chorando a morte dos jogadores da Chapecoense.

Troquei ideia com meu pai que é piloto e fiz uma análise pé-no-chão de como o excesso de jeitinho brasileiro causou aquele desastre.

Recebi muito hate-mail pela agressividade do artigo mas muitas coisas que eu levantei ali acabaram se provando verdade nas semanas seguintes.

O artigo de hoje sim tem a ver com a prisão do Eike Batista… mas o negócio vai muito além de um mero comentário jornalístico.

Vim aqui para analisar a diferença entre bons bilionários e maus bilionários e vou citar uns 5 business books para desenvolver alguns tópicos de macroeconomia.

Mas antes de falar sobre dinheiro, vamos ali conversar com um poeta lá dos anos 1980 que até hoje é um dos cantores favoritos da minha querida mamãe Marta.

 

Viva Cazuza

Pô, Raiam! O que tem o título do seu artigo a ver com o Cazuza?

Segura essa estrofe aí de uma das principais músicas do cara:

 Meus heróis morreram de overdose.
Meus inimigos estão no poder
Ideologia
Eu quero uma pra viver

Agora volta a fita para a época da minha vida que foi retratada no meu segundo livro Wall Street: A Saga De Um Brasileiro Em Nova York. 

Lá pros idos de 2009, eu era um jovem bolsista na University of Pennsylvania, a mesma faculdade onde o presidente Donald Trump e seus filhos se formaram.

Seguindo o tema central desse artigo, a University of Pennsylvania é a universidade que mais formou bilionários no mundo inteiro, batendo instituições mais famosas como Harvard, MIT e Princeton.

Não acredita? Leia o artigo Why UPenn Produces More Billionaires Than Any Other School In The World.

Por ser disparado o mais extrovertido entre a meia dúzia de brasileiros que havia passado no vestibular da Wharton School of Business, eu tinha o papel não-oficial de embaixador do Brasil em West Philadelphia.

Para você ter uma ideia, até uma escola de samba eu ajudei a criar. Olha a prova do crime em foto e em vídeo:

Como “diplomata júnior”, eu representava indiretamente alguns heróis brasileiros que eram famosos ao redor do mundo naquela época. Se liga nos meus maiores exemplos de brasileiros nos meus tempos de universitário:

No futebol? Adriano Imperador!

O cara era o camisa 9 da Seleção e ainda era artilheiro no Calcio Italiano.

No mundo dos negócios? Eike Batista!

O cara era o #7 na lista da Forbes com o Império X e tinha planos bem concretos para virar o homem mais rico do mundo até 2014.

No mercado financeiro? André Esteves!

Esteves era dono de um dos bancos de investimento mais poderosos das Américas, o BTG Pactual, e tinha ficado bilionário antes de completar 40 anos de idade.

Na política nacional? Sérgio Cabral Filho!

Eu tinha sonho de seguir carreira na política e ele foi um dos homens-chave que trouxeram a Olimpíada para o Rio.

Na política internacional? Luis Inácio Lula da Silva!

Na época, o Lula era considerado o homem mais carismático do mundo.

É… não preciso dizer mais nada!

Como dizia o velho Cazuza, meus heróis “morreram de overdose”.

Ainda bem que eu tinha só 19 aninhos e muita vida pela frente.

Acho que uma das minhas maiores virtudes é a capacidade de mudar de ideia.

Como dizia o apóstolo Paulo 2 mil anos atrás, o ser humano tá aí para lutar o bom combate e evoluir a cada dia.

Por essas e outras, eu ostento toda e qualquer cicatriz do meu passado com orgulho. Interpreto as cicatrizes como marcas de guerra e sem elas eu não teria chegado aonde estou.

Olhando para trás, sabe qual a fundamental razão pela qual eu admirava esses heróis?

Simples: eles eram muito ricos e eu queria ser muito rico.

Ponto final.

Esteves e Adriano tinham um componente especial: saíram daonde eu saí. 

O Imperador é negro que nem eu e cresceu na Vila Cruzeiro. Eu morei dos 0 aos 12 anos no bairro do lado, a Vila da Penha.

O Esteves também era da Zona Norte do Rio e escalou do back-office para o bilhão de dólares antes de completar 40 anos.

Eu estava me formando em economia, correndo atrás de uma vaguinha no mercado financeiro de Nova York e queria uma trajetória daquelas também.

Minha falecida avó Araci era apaixonada pelo Sérgio Cabral porque ele era o “vereador da terceira idade”, patrocinando várias leis que beneficiavam os velhinhos.

Minha infância ficou marcada com o jingle de sua campanha para prefeito em 1996:

“Pra ficar legal, é
A gente quer o melhor
Sérgio Cabral”

Ele acabou perdendo aquela eleição para o Conde, minha avó morreu alguns anos depois mas eu sempre associei a imagem do Sérgio Cabral a ela.

Resultado? Virei fã de carteirinha do cara sem querer querendo.

Se você voltar para os primórdios desse humilde blog em 2014-2015, de cada 3 artiguos que eu soltava, 2 estavam elogiando um tal de Jorge Paulo Lemann.

Havia acabado de ler e reler o livro Sonho Grande, estava envolvido em alguns programas da Fundação Estudar e o Jorge Paulo Lemann havia recém-adquirido empresas gringas como a Kraft Foods e o Burger King.

Que homem!

Toma aí 4 exemplos de posts puxa-saco daquela época:

 

O Burger King e o Novo “Jeitinho” Brasileiro – 27/12/2014

A Kraft Foods agora é Brasileira. Saiba porque eu quase gozei quando li a notícia – 25/03/2015

Conferência Ene Pt1: A Cultura 3G e o Legado de Jorge Paulo Lemann – 20/08/2015

Conferência Ene Pt3: O Auto-Conhecimento Que Te Chacoalha 22/11/2015

 

Hoje em dia, eu tenho zero admiração pelo cara por uma série de motivos.

Se estiver curioso, escuta os 20 minutos finais do podcast que gravei sobre o mercado de consultoria com o Matheus Santiago Neto (Podcast MundoRaiam – Episódio 16)

Apesar disso tudo, Jorge Paulo Lemann acaba caindo na categoria de “bom bilionário”.

Tá bom, Raiam. Chega de historinha! Vim aqui por causa do título… qual é a diferença entre um bom bilionário e um mau bilionário?

Calma aí, jovem.

Tenho que te apresentar ao primeiro cara que trouxe esse conceito/dualidade à tona.

 

O Rei Ruchir Sharma

Como todo escritor que se preze, eu passo grande parte dos meus dias lendo (já terminei 17 livros nesse ano de 2017) e tenho várias referências na profissão.

Me espelho em autores e letristas como Michael Lewis, Mano Brown, Jim Rogers, Chico Buarque, Ernest Hemingway, Malu Gaspar, Joseph Murphy, Vitor Isensee, Tucker Max, Paulo Coelho.

Apesar da influência dessa galera, na minha franca opinião, o melhor do mundo é esse negão aqui:

Caramba, Raiam!

Tanto escritor de verdade para você admirar e você vai se espelhar num bêbado que posou na G Magazine e foi o rei das surubas nos anos 1990?

É o seguinte: meu ganha-pão hoje em dia é contar histórias nos meus livros e no meu site… e eu ainda não vi um cara que conte história melhor que o Vampeta.

Depois dá uma olhada na resenha que eu escrevi para o livro Memórias do Velho Vamp aqui no MundoRaiam.

Minha principal fonte de renda continua sendo os royalties do meu primeiro livro Hackeando Tudo, que nada mais é que um livro sobre hábitos.

Não incluí esse no livro mas um dos meus hábitos diários mais importantes hoje em dia é assistir meia hora de Vampeta no YouTube. 

Quando eu escuto uma daquelas resenhas do Vampeta, eu presto atenção em três técnicas de storytelling que acabam dando muitos frutos dentro do meu próprio trabalho.

1) O Vampeta faz o interlocutor sentir que é um amigo de longa data lá de Nazaré das Farinhas e faz parecer que o interlocutor está num bar tomando um danone quadragésimo com ele
2) Suas histórias são cheias de referências familiares ao grande público, seja citando jogadores famosos ou descrevendo eventos marcantes
3) Ele usa recursos de linguagem (sem querer ou querendo) que fazem com que o interlocutor se imagine dentro da história

Vai no Amazon e pega as avaliações dos meus três últimos livros Imigrante Ilegal, Classe Econômica:Europa Comunista e Arábia e você vai ver que a maioria dos elogios de leitores estão relacionados com esses três ítens.

Se alguém aí conhecer o Velho Vamp pessoalmente, manda um Whatsapp pra ele em meu nome agradecendo pela influência.

Depois de Marcos Vampeta, o segundo melhor escritor do mundo chama-se Ruchir Sharma. 

Ruchir é um indiano que trabalha como estrategista de mercados emergentes para o banco de investimento Morgan Stanley em Nova York.

O primeiro livro que eu li dele é uma obra prima chamada The Breakout Nations lá atrás em 2012.

Entre 2009 e 2011, Sharma passava um mês em cada país emergente, analisava a conjuntura macro do lugar e dava um ultimato dizendo se tal país era ou não uma “breakout nation”.

Ele fez isso com 14 países no livro. Além dos BRICS, tem capítulos para Turquia, México, Taiwan, Coreia do Sul, Indonésia, Polônia, Malásia, Hungria e República Tcheca.

Apesar de ser o queridinho dos investidores internacionais na época em que o livro foi produzido, o Brasil não passou no teste do Sharma.

O engraçado é que TUDO que ele previu no capítulo do Brasil do Breakout Nations acabou acontecendo por aqui.

No último livro dele The Rise And Fall of Nations, ele apresenta métricas alternativas para comparar nações e prever que país vai deslanchar e que país vai congelar no tempo.

Sharma não confia em dados de governo porque, na grande maioria das vezes, eles são fabricados para atingir objetivos dos próprios políticos locais.

O cara trabalha com macroeconomia há 25 anos e tem uma porrada de exemplo de contabilidade criativa e cálculos coloridos de inflação e crescimento de PIB para mascarar certos problemas estruturais em países.

Ele também não confia nas estatísticas do Banco Mundial por um simples motivo: elas são extremamente desatualizadas e te fazem olhar pra trás… e não pra frente. 

Para driblar essa ineficiência das estatísticas oficiais, Sharma usa o livro para apresentar 10 modos alternativos de comparar uma economia com a outra.

Se você gosta de relações internacionais e macroeconomia, acho que tá valendo acompanhar o trabalho do cara.

Além de escrever livros e artigos bombásticos e fora da caixa, ele administra 25 bilhões de dólares em ativos internacionais no Morgan Stanley de Nova York. Pouco pica, né?

O mais interessantes de todos os modos alternativos está no capítulo 3 do livro: a dualidade entre o mau bilionário e o bom bilionário.

 

Os Maus Bilionários

Fica tranquilo que eu não sou comunista e não estou aqui para promover uma guerra polarizada entre “nós pobres” e “eles ricos”.

Sou um preto de direita, tenho CNPJ e continuo seguindo aquela regra que eu mesmo criei num velho artigo aqui desse blog: Não Contrate Um Comunista.

Dessa vez, o buraco é mais embaixo.

Antes de comparar os dois tipos de bilionários, o Ruchir Sharma faz uma análise da riqueza das 10 pessoas mais ricas de cada país em proporção ao PIB total daquele lugar.

Se olharmos apenas por essa métrica, a Índia (top-10 representando 12% do PIB total) está numa posição muito pior que a China (top-10 representando apenas 1% do PIB total).

Aí o cara vai mais além e traça a origem desses bilionários.

Para Sharma, se mais de 30% dos bilionários de um determinado país tiver sua riqueza derivada de 4 setores específicos da economia, pode se preparar que vai ter treta no meio. 

 

Os quatro setores são esses:

1. Construção Civil/Infraestrutura
2. Mineração
3. Petróleo
4. Bancos/Mercado Financeiro

Por que isso?

Porque esses setores estão diretamente ligados a dois fenômenos que os economistas americanos chamam de rent-seeking activities e crony capitalism.

Rent-seeking activities têm a ver com o conceito de “renda econômica”. Atividades de renda econômica manipulam o ambiente social e político para derivar lucro reduzindo a soma da riqueza social.

Em poucas palavras, atividades que transferem riqueza… sem gerar riqueza. Se quiser se aprofundar no assunto, dá uma lida nessa descrição do Instituto Braudel.

Uma tradução que arrumaram para crony capitalism é “capitalismo de compadres”.

Toma aqui uma frase do falecido professor Gary S. Becker, vencedor do Prêmio Nobel de Economia e um dos grandes economistas sociais da University of Chicago:

“O capitalismo de compadre é um sistema onde empresas com forte conexões com o governo ganham poder econômico, e não por ser mais competitivas, mas pelo uso do governo para favorecimento e proteção de sua posição.”

Já viu esse filme, né?

Vale lembrar que o Sharma faz questão de dizer no livro que nem todos os bilionários desses quatro setores são maus… mas todos os maus bilionários vêm desses setores.

Em construção civil e infraestrutura, eu penso em Marcelo Odebrecht.

Será que ele tinha rabo preso com o governo para conseguir tanta obra pública orçada em bilhão que acabou estourando o orçamento?

Vou até abrir um parêntese e citar um caso de mau bilionário que eu já apresentei aqui no MundoRaiam em 2015. Não sei se você lembra do post O País do Elefante Branco mas o presidente do Real Madrid Florentino Pérez tem características bem parecidas: crony capitalism, rent-seeking activities e foco em construção civil e infraestrutura.

Em mineração, petróleo e infraestrutura, eu penso no Eike Batista.

Antes de comprar terras e abrir a MMX Mineração, será que ele pegou os estudos geológicos do papai dele?

Vale lembrar que Mr. Eliezer Batista foi presidente da Vale e Ministro de Minas e Energia na época da ditadura militar e da corrida do ouro de Serra Pelada e Carajás. O velho tinha pouca informação privilegiada e poucos contatos dentro do governo, né?

A OGX era a principal empresa do império bilionário de Eike Batista. Para arrematar aqueles poços de petróleo com uma empresa pré-operacional com track record praticamente zerado, será que ele usou as conexões da família Batista dentro do governo?

Vou além! Vamos lembrar das empresas que faziam parte do Império X na época que o Eike Batista era meu herói:

OGX – Petróleo = mau bilionário
LLX – Infraestrutura = mau bilionário
MMX – Mineração = mau bilionário
MPX – Concessões = mau bilionário
REX – Construção civil/real estate = mau bilionário

Tava escrito, né? Só setor que precisa de networking dentro do governo…

No mercado financeiro, temos o André Esteves.

Se você tiver um infiltrado no governo, você sabe antes de qualquer pessoa no mundo para que direção a curva de juros e o câmbio vão mover. Com essa informação, você cria uma máquina de dinheiro e deixa todos os sócios do banco bem ricos.

Agora vamos unir os pontinhos?

As obras grandiosas das empresas do Eike eram executadas por qual empreiteira? PLIM!

E qual banco de investimento brasileiro participou ativamente das emissões de ações e de outros serviços financeiros mais “elaborados” para o Grupo X? PLIM!

Quais foram os primeiros três bilionários brasileiros a serem presos?

Capitalismo de compadre, meus amigos!

Segundo Sharma, países com muitos “maus bilionários” terão problemas eternos em 6 áreas:

1) excesso de burocracia e red-tape
2) desigualdade social
3) corrupção
4) alta inflação
5) alto desemprego
6) baixo crescimento de PIB.

Parece até os problemas do Brasil atual, hein?

No livro, ele aponta que 64% dos bilionários do Brasil entram na categoria de maus bilionários.

Fica tranquilo que tem casos piores aí mundo afora.

O mais gritante deles é a Rússia, onde mais de 70% de seus bilionários vêm dos 4 setores tóxicos ali de cima. Os oligarcas de lá são um caso a parte.

Os bilionários da Rússia controlam 16% do PIB do país. De acordo com a regrinha do Sharma, qualquer número acima de 10% coloca o país numa situação preocupante com relação aqueles 6 problemas que eu acabei de citar.

 

Os Bons Bilionários

biografias de empresas

O bom bilionário é aquele que ficou rico por causa da lei mais poderosa do planeta Terra:

A lei da oferta e da procura

E digo mais: ficou rico sem precisar manipular essa lei com o crony capitalism e as rent-seeking activities que eu descrevi ali em cima.

Inovou? Fez um produto bom? Tem demanda pra isso? Agregou valor a vida de pessoas?

Passou no teste! Pode ficar rico aí, jovem!

Entre outros setores de bons bilionários, o Sharma cita varejo, entretenimento, máquinas, tecnologia, serviços, produtos farmacêuticos e agricultura.

Fiquei meio com o pé atrás quando vi agricultura ali mas o negócio acabou fazendo sentido.

Na agricultura, você planta para depois colher. Na mineração e no petróleo, você só extrai.

Boom! Taí um caso de criação de riqueza versus extração de riqueza/rent-seeking.

Para você ter uma ideia, só 8% dos bilionários da Alemanha vem daqueles quatro “setores tóxicos” da economia. Os outros 92% ficaram ricos inovando e criando bons produtos e serviços.

Vou resgatar o número do Brasil para deixar a comparação mais legal: 64% dos bilionários brasileiros são “maus bilionários”.

É mano…

Os primeiros exemplos de bons bilionários brasileiros que vêm na minha cabeça são Abilio Diniz (Pão de Açúcar), Antônio Seabra (Natura), Michael Klein (Casas Bahia), Walter Faria (Cervejaria Petrópolis) e Roberto Marinho (Globo).

Vale a pena lembrar o seguinte: só o fato do cara ser considerado um “bom bilionário” na definição do Sharma não quer dizer que ele esteja imune aos conchavos com o governo.

Na real, deve ser bem difícil ser um grande empresário no Brasil com 100% de ética sem molhar a mão de ninguém.

No debate/palestra que participei no III Fórum Liberdade em Democracia de São Paulo, eu dei um exemplo bem curioso de bom bilionário e aproveitei para alfinetar ele. Coloca aí em 9:57…


A moeda sempre tem dois lados, né?

A presença de bons bilionários também traz um fenômeno que o Sharma vê com bons olhos: o turnover da lista da Forbes.

Se você não manja do assunto, “turnover” é o termo gringo para descrever a rotatividade de pessoas num certo cargo.

Para o autor, quanto mais turnover na lista bilionários década após década, melhor para um país.

Por que?

Porque é sinal que está acontecendo inovação e evolução naquele lugar.

Lembra daquele conceito de Destruição Criativa de Joseph Schumpeter?

Pega o exemplo dos Estados Unidos.

Com raras exceções como Warren Buffet e Bill Gates, a galera que povoava o topo da lista da Forbes americana de 20 anos atrás acabou dando lugar para um pessoal mais jovem e mais inovador depois desse boom de tecnologia que tá acontecendo lá em San Francisco.

Para você ter uma ideia, só 10% dos nomes da primeira edição da lista de bilionários da Forbes USA de 1982 continuaram na lista em 2012.

Pega a lista brasileira, os nomes são praticamente os mesmos de 20 anos atrás… só mudou a posição deles no ranking.

Sem inovação, sem ambiente aberto para competir, as pessoas se eternizam por lá e isso vai passando de geração em geração.

Um outro fenômeno que o Sharma critica no Brasil é a riqueza herdada e a ausência de bilionários self-made (que ficaram ricos por mérito próprio).

Entra nessa lista aqui da Forbes e você vai ver pouquíssimos bilionários self-made. A grande maioria está na lista por causa de herança do papai ou do vovô.

Entre outros exemplos, estão os herdeiros de Antônio Ermírio de Moraes, de Jacob Safra, de João Moreira Salles, de Sebastião Camargo, de Roberto Marinho, de Norberto Odebrecht, etc.

No top-10 da lista de 2016, o único brasileiro self-made que entrou lá porque inovou e criou um bom produto é o senhor Eduardo Saverin, sócio do Mark Zuckerberg no Facebook.

Depois da queda do Império X, o Eike deve ter lido os livros de Ruchir Sharma e resolveu largar o “capitalismo de compadres” para se tornar um “bom bilionário” no estilo self-made.

Antes de ser preso, o que ele estava cozinhando? Uma pasta de dente revolucionária!

Olha esse artigo aqui do Mauricio Lima da Veja descrevendo os milagres da nova empreitada do Eike numa atividade de “oferta e procura”.

Pena que não deu tempo, né?

 

Daqui pra frente

O “capitalismo à brasileira” é cheio de exemplos de crony capitalism.

Não tá afim de ler um livro de 400 páginas em inglês? O spoiler de The Rise and Fall of Nations é o seguinte:

Assim como em Breakout Nations de 2012, Sharma reprovou o Brasil no seu segundo livro The Rise And Fall of Nations de 2016.

Mas tem um porém bem interessante: ele escreveu o livro antes da OPERAÇÃO LAVA JATO começar a botar os “maus bilionários” no xilindró.

Até bem pouco tempo atrás, a regra não-escrita para fazer negócios no Brasil era molhar a mão do governo… especialmente nos setores que eu citei ali em cima.

Para o bem de todos e felicidade geral da nação, parece que esta regra não-escrita está mudando gradativamente.

Mano, se o Marcelo Odebrecht rodou, o Eike Batista rodou, o André Esteves rodou, pode ter certeza que mais gente vai rodar nisso aí. 

Vou te mandar uma real: se a Lava Jato for catar todos os maus bilionários estilo-Eike que fizeram rolo com o governo para desviar dinheiro dos pagadores de impostos (vulgo nós), a gente finalmente vai ver um turnover interessante na versão brasileira da lista da Forbes.

Ruchir Sharma agradece!

Putz, vou parar por aqui. O artigo ficou longo demais e o brasileiro em geral é preguiçoso e não consegue parar tudo para ler um artigo de mais de 3 mil palavras como esse.

Se você chegou até aqui embaixo, considere-se no top-1% da população brasileira… pelo menos no lado intelectual.

Já citei Cazuza, já citei Vampeta, já citei Adriano Imperador e vou terminar meu artigo com um versinho de um samba lá da Mangueira do ano de 1969, interpretado por Mussum e pelos Originais do Samba. O nome da obra prima é Reunião de Bacana e vai mais ou menos assim…

“Se gritar pega ladrão
Não fica um, meu irmão”

Por um Brasil com mais bons bilionários inovadores e criadores de riqueza!

Meu nome é Raiam Santos, tenho 26 anos e 7 livros publicados que você nunca leu.

Me dá uma moral lá no Amazon? Só clicar em “Comprar livros do Raiam” e escolher um.. ou dois… ou todos os sete!

Valeu!

P.S: Se você é universitário ou recém-formado e tem o sonho de trabalhar no mercado financeiro, se inscreve lá no Projeto Wall Street!