Já mostrei no post Made in Santo Agostinho: o darwinismo educacional do melhor colégio do Rio de Janeiro o quanto eu me amarro em dar palestra pra gente acima da média.
Naquele mesmo dia da palestra da UFRJ, conheci um camarada que fez questão de falar que se amarra em escrever.
Achei aquilo no mínimo estranho.
Afinal, era um evento para uma galera top da engenharia.
Gente que se amarra em escrever geralmente estuda letras, jornalismo e outras carreiras mal-vistas no mercado de trabalho de hoje em dia.
Tenho quase 50mil seguidores nas redes sociais e é muito comum receber mensagens de gente que se apresenta dizendo que se amarra em futebol americano, em mercado financeiro e em viagens de fanfarronice.
Esses aí são os 3 assuntos que mais trazem gente para a minha página.
Mas aí… são 3 paradas que fazem parte do meu passado:
1) Pendurei o capacete no início de 2015
2) Não trabalho mais na bolsa de Nova York e não tenho a mínima vontade de voltar
3) Sou praticamente casado então aquelas viagens malucas da série FanfaRaiam de 2013 provavelmente não irão se repetir
Meu presente é escrever!
Era hobby e virou profissão… e eu me sinto um cara mega-realizado hoje em dia.
Aí me aparece esse camarada de engenharia de produção dizendo que se amarra em escrever.
É claro que eu dei moral pra ele.
Acabou que ele fez intercâmbio em Southampton (Inglaterra) com um brother meu lá de Recife que foi testemunha ocular do quebra-quebra da Grécia no meio do ano de 2015.
O pernambucano até escreveu um mega artigo pro meu blog. Lembra do post Um pernambucano no caos da Grécia pré-calote? Tamo junto Iago!
O nome da fera de hoje é Caio Swan e ele incorporou aquela filosofia do Pica Pau que eu apresentei na palestra já desde o marco-zero.
Primeiro que ele conseguiu meu email pessoal.
Me mandou um guest-post, depois outro, e depois mais outro e ainda me cobrou porque eu não tinha jogado nenhum deles no site.
Gosto de gente chata e persistente assim. Afinal, eu mesmo sou chato e persistente pra caramba quando quero atingir algum objetivo.
Caio Swan… Guardem esse nome.
Te garanto que ele vai aparecer mais vezes aqui no MundoRaiam.
A Universidade Mundial: uma iniciativa que promete revolucionar o ensino superior
Por Caio Swan
Já imaginou um diploma universitário estudando durante 4 anos em 7 cidades de 4 continentes?
Sem assistir aulas convencionais?
Com colegas de todas as partes do mundo?
Tendo a prática como foco?
E tendo como objetivo final tornar o aluno alguém com pensamento sistêmico, um inovador, um líder global?
Na página de admissions, o primeiro título que você lê é Challenge seekers wanted.
Conheça a Minerva University. (https://minerva.kgi.edu/)
A turma protótipo foi no outono de 2014 e a inaugural em setembro de 2015.
Tá começando o negócio ainda.
A teoria apresentada no site tá linda, mas já cometi o erro de deixar as aparências enganarem.
Precisava de alguém vivendo essa experiência pra contar como é.
Assim, conversei com a empolgada Lara Bach, gaúcha de 18 anos terminando seus projetos finais do primeiro semestre da Minerva em São Francisco/EUA.
Foi tanta informação maneira que não dava pra montar esse texto como entrevista, ficou um intercalado de informações e opiniões.
O que você aprende?
Como algumas universidades americanas, a Minerva funciona no modelo que chamam de Liberal Arts.
Você não entra na faculdade escolhendo um curso, apenas um College.
A Lara, por exemplo, está no College of Arts and Sciences.
Nesse modelo, durante o primeiro ano o foco é desenvolver as competências consideradas essenciais para TODOS os alunos: pensar criticamente, pensar criativamente e comunicar-se eficientemente.
Para isso, são lecionados os cursos chamados Cornerstone (pedra base). Se liga no resumo:
Ano 1 – São Francisco/EUA
– Análise formal: análise de dados, compreensão de problemas, tomada de decisões. Te desafio a dizer uma pessoa no mundo que não precise dessas habilidades. Agora leve a outro nível aplicando métodos formais matemáticos, estatísticos e lógicos.
– Análise Empírica: acima a análise de dados, aqui a análise de hipóteses. É aprender como testar suas ideias e usar os resultados para desenvolver, implementar, inovar!
– Sistemas complexos: Já percebeu que tudo na vida está interligado, mas você aprende assuntos isolados? Aqui o foco está na interação de algumas redes complexas, como psicológica, econômica e sistemas sociais.
– Comunicação Multimodal: Raiam não cansa de repetir, saiba se apresentar, se comunicar, se vender. Então vem essa aula de comunicação efetiva, através da escrita, música, apresentação pública, etc… Level up na retórica e no marketing.
A partir do segundo ano, você escolhe um ou dois dos cinco majors para focar.
Eles são áreas mais gerais como Business ou Natural Sciences.
Dentro desses majors você ainda escolhe concentrations, o que chega mais próximo ao que consideramos aqui no Brasil como curso.
O aluno formado tem o diploma de Bachelor of Arts and Sciences com foco em tal major e concentration.
A Lara comentou que nos EUA isso é suficiente para diversas profissões, mas pra algumas especificas, como médico ou engenheiro, é preciso ir pra uma escola específica depois, que muitas universidades têm, porém a Minerva ainda não.
Aula palestra? Esquece!
As aulas são um dos grandes diferenciais da universidade.
Esqueça a padronização de alunos e a aula meramente expositiva.
A Minerva desenvolveu uma plataforma online usada em todas as aulas.
Misture um Skype da turma toda no qual o professor ainda tem recursos extras como fazer uma pesquisa instantânea ou separar os alunos em grupos para trabalhos.
Pra Lara, você aprende com seus colegas.
É incrível ver a reação de todos durante a aula, dá pra perceber quando alguém quer dar opinião, impossível numa sala.
Não tem aluno do fundão, ainda mais também porque a nota depende da participação na aula.
É muito mais fácil ficar concentrado.
Agora segura esse baque, nenhum conteúdo é aprendido em aula.
Nadinha.
O conteúdo é aplicado.
Exemplo da aula de algoritmos da Lara. O professor passou leitura e vídeos sobre o assunto antes, o que ela não entendeu teve que correr atrás ainda antes.
O professor pediu pra ela falar um exemplo de otimização de algoritmos em um conto de fadas durante a aula!
Resposta? O príncipe da Cinderela usou força bruta batendo de porta em porta procurando a dona do sapato, podia ter feito uma pesquisa por idade ou participantes do baile.
Aplicação perfeita, nota 3 de 5.
Quer moleza? Aplicação perfeita do que o professor pediu, pra tirar mais precisa aplicar conteúdo não pedido, aprendido em outras aulas.
Isso é considerado uma boa nota, mas vê como sempre dá pra ir além.
As notas são baseadas em competências (habits of mind), na aula de algoritmos um deles era a otimização.
Ela já está aplicando na vida real, sendo realmente educada a pensar, não só decorar.
Muitos comentam sobre a falta de contato presencial nesse tipo de aula virtual, mas pra ela isso não faz sentido.
Você conhece muito melhor seu colega vendo seu rosto e ainda tem o contato do dia-a-dia, todos moram no mesmo prédio.
Alguns alunos que gostam de companhia presencial durante as aulas as assistem lado a lado.
Outros deitados na cama, ou no parque, num café. Os professores estão em qualquer lugar no mundo.
O negócio é flexibilidade.
Inconformismo com o modelo padrão
A Lara conheceu a Minerva pela entrevista do brasileiro da turma protótipo em um jornal.
Aguardem que vai chegar a história da pessoa que foi pra lá por causa desse post.
Na escola tradicional que ela estava, todos tinham o pensamento tradicional, entrar na UFRGS, mas ela tinha suas dúvidas.
Começou não gostando de ter que escolher o curso antes de começar a faculdade.
Outro percalço: tinha estágio, fundou clubes no colégio, líder de turma e o vestibular não consideraria absolutamente nada disso.
Veio o sonho de fazer faculdade no exterior.
Todo mundo fazendo cursinho e estudando pro ENEM, mas ela no final do ano tava só focada em sair do país.
Aplicou pra algumas e a Minerva era o maior sonho.
Como segunda opção, ela fez UFRGS pra RI, passou.
Passou e meio que esqueceu o exterior.
No Facebook de brasileiros se candidatando pro exterior até se desestimulou com histórias que considerava mais impactantes que a dela.
Ledo engano.
A aula na universidade não era nada como pensava.
Ela queria era dar opinião em aula e não conseguia, os professores passaram até a não gostar dela.
Passou um tempo, ainda não se encaixava em nenhum âmbito da faculdade, faltava a exploração de diferentes correntes filosóficas que ela esperava.
A Lara fez questão de elogiar a qualidade da UFRGS.
Pra quem gosta de aula expositiva (como feito em todo Brasil) é ótimo, mas pra ela o professor tem que ser mediador, não expositor.
Depois de um semestre passou pra Minerva, lugar pra quem gosta de ensino ativo, quem gosta de aprender dando opinião, se expressando. Foi.
Admissão e Custeio
O Raiam já comentou bastante sobre os processos de admissão das faculdades americanas e a Minerva é praticamente igual.
O foco não está só nas suas notas (lembra as atividades extraclasse da Lara?)
Há apenas uma diferença fundamental: não precisa de documentação financeira pra comprovar que pode pagar.
Depois de aceito você mostra quanto precisaria de bolsa através de extratos, imposto de renda… e a Minerva oferece um financial aid com 100% do que o aluno precisa.
Se você é capaz de pagar 40% do total, 40% pagarás.
Quer aprender a navegar o processo do vestibular americano e descolar uma bolsa de estudos lá fora?
Aproveita que o curso COMO GANHAR BOLSA PARA UNIVERSIDADES AMERICANAS está com 50% de desconto no Udemy.
A Lara comentou que eles têm um financial aid generoso, pro dinheiro não ser empecilho para os melhores alunos.
Por outro lado, não há bolsas por mérito.
Pra se sustentar lá também rola ajuda.
Os alunos são estimulados a fazer estágios já no primeiro ano, porém nem sempre o visto no país permite.
Os EUA encrencam.
Com o visto que eles ganham só poderia estágio no campus da faculdade.
Aula online = nenhum campus, mas ainda assim a Minerva oferece estágios interessantes: programador pra plataforma da Minerva, student outreach, como a Lara, fazendo divulgação da Minerva, parte do time de experiência estudantil de eventos, entre outros.
Acaba suplementando o financial aid.
Após São Francisco, os outros anos são a princípio em Berlim, Buenos Aires, Bangalore, Seoul, Istambul e Londres.
A intenção é interagir com as oportunidades de cada lugar na forma de projetos sociais, estágios, pesquisas…
Não ficar preso em salas de aula com o mundo esperando pra ser vivido e não só teorizado.
Assim, cada país vai acabar sendo de um jeito diferente dependendo do tipo de visto.
A Minerva vai oferecer estágio pro aluno que precisar onde estiver.
O que vem pela frente
Para a Lara, essa plataforma de ensino é o futuro da educação (acho que não faltam exemplos acima do porquê).
Entretanto, falta mente aberta à tecnologia, ainda existe um preconceito com o estudo online.
Falta as pessoas realizarem que não é uma educação robotizada, ela está ali como facilitadora, mas quem constitui a plataforma são alunos.
A educação é ainda mais humana porque facilita as interações.
Outro grande desafio a longo prazo é o preço para tornar a tecnologia acessível.
Aos poucos vamos avançando.
A própria Lara ainda não sabe pra que lado irá avançar.
Ela acha que vai acabar se encontrando em alguma das cidades do caminho da Minerva.
Ainda não decidiu a área que se interessa, mas se vê lidando com relacionamento, falar com pessoas.
Então abriu o leque dizendo que pode ser como apresentação de projetos e pesquisas, pode ser sociedade, pode ser política….
Muitas opções em aberto, mas uma certeza: não importa o rumo que decidir seguir, a Minerva foi a escolha acertada para ela.
Se você se interessou por essa idéia de “ensino revolucionário”, dá uma olhada no livro A EDUCAÇÃO DOS FUTUROS MILIONÁRIOS de Michael Ellsberg.
Ahh e não esquece de entrar lá na minha lista de emails, já é?
~Raiam
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