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Turismo Ousadia: Um pernambucano no caos da Grécia pré-calote

Kobe Blog
Escrito por Kobe Blog em 24/07/2015
Turismo Ousadia: Um pernambucano no caos da Grécia pré-calote

Quando lancei o MundoRaiam no fim de 2014, decidi dedicar o site a três pilares principais:

1. Posts sobre o mercado financeiro
2. Review de livros tops
3. Viagens para lugares diferentes

 

Na verdade, desde que voltei a trabalhar em private equity, minha vida ultimamente tem focado nos dois primeiros e faz um bom tempo que eu não posto sobre viagens no exterior.

Acho que meu último post desse calibre foi aquele investor review que eu escrevi sobre a economia do Panamá.

Fui para o Panamá com a Seleção Brasileira para jogar a eliminatória da Copa do Mundo IFAF de Futebol Americano e aproveitei para escrever um diário de viagem em três partes falando um pouco sobre a infraestrutura do país, sobre a história do Canal do Panamá e sobre a dominação chinesa na América Central.

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Esses dias, estava trocando idéia com um amigo lá de Pernambuco que é bolsista de comércio internacional na Universidade de Southampton na Inglaterra (o cara é pica).

Ele me contou que ia dar um rolé na Grécia exatamente no momento mais crucial da história recente daquele país: o calote do FMI e a possível saída (ou expulsão) da Zona do Euro. 

Eu, despretensiosamente, plantei um verde e pedi que ele escrevesse uma resenha da viagem contando o que ele viu por lá.

Falei meio que de sacanagem, mas o cara levou a sério.

Umas duas semanas depois, checo meu email e vejo um arquivo word do cara lá.

Confesso que fiquei feliz pra caramba com a surpresa.

E que top ficou o texto do Iago Maciel de Souza!

Vou deixar a cerimônia de lado e vamos para a resenha dele:

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Iago Maciel de Souza, bolsista da University of Southampton (Inglaterra)

 

 

Opa galera, tranquilo?

 

Estou fazendo intercâmbio de um ano aqui em Southampton, no sul da Inglaterra, pelo programa Ciência Sem Fronteiras e vou contar um pouquinho sobre a melhor viagem do meu intercâmbio, um pouco da crise econômica na Grécia e como a coisa quase ficou preta em Mykonos.

O pré-jogo: chegando na Grécia

 

Os dois meses que anteciparam a viagem (estudante tem que se programar com muita antecedência) foram preenchidos com muitas broncas da faculdade para resolver.

Final de semestre é igual em todo canto do mundo mas consegui acompanhar a novela grega. O tempo foi passando, a viagem foi se aproximando e juntamente com ela, vinha o prazo final para o pagamento da dívida e nada de um acordo sair.

Faltando uma semana para a viagem, numa quinta-feira, data final para a aceitação do acordo por parte da Grécia, tudo que era site, inclusive o Business Insider, afirmava que se o acordo não saísse naquela quinta o parlamento grego não teria tempo para aprovar as medidas, já que o vencimento já seria na segunda feira seguinte.

A quinta passou e o acordo não veio, e eu não pude deixar de pensar no pior:

Será que iria rolar um “Grexit” (Greece exit, ou a saída da Grécia da Zona do Euro) enquanto eu estivesse lá?

E aí, para o timing ficar ainda mais perfeito, o primeiro ministro grego, Alexis Tsipras, convoca um Referendo para decidir se o povo grego aceitava os termos do empréstimo ou não (que diga se de passagem, foram sinistros).

Essa medida foi de encontro a tudo que se havia discutido na semana anterior e gerou um desconforto geral na Europa.

 

Agora vamos ao que realmente interessa

 

Cheguei em Atenas na madrugada do dia 5 de julho, dia do Referendo.

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A primeira coisa que fiz ao sair para o saguão do aeroporto foi procurar um caixa automático.

Se falou muito durante a semana que as filas estavam enormes para sacar dinheiro e que havia limite de saque (os gregos só podiam sacar 60 euros por dia).

Achei dois logo de cara, com apenas quatro pessoas na fila e um movimento muito tranquilo no aeroporto.

Tinham dois amigos meus em um hostel perto do centro e para não ficar no aeroporto, resolvemos dar logo um pulo lá.

O aeroporto era longe do centro e a corrida custaria cerca de 40 euros. Achamos caro e decidimos procurar o shuttle bus para o centro.

Como era o dia do referendo, todos os transportes públicos de Atenas estavam gratuitos, UM SONHO!

Quando chegamos lá no terminal do ônibus pegamos um taxi (depois descobrimos que o hostel estava a 10 minutos andando de lá) junto com uma australiana (oh Austrália abençoada, meu Deus!) que ia para o mesmo hostel.

E foi aí que eu senti pela primeira vez a crise dando um alô.

O taxista estava sem taxímetro, sem cinto, fumando e bebendo!

Fomos conversando e eu logo perguntei como estava a situação e o que ele esperava do referendo.

Ele começou a xingar o governo e me disse que estava trabalhando muito mais que há cinco anos atrás e com menos dinheiro.

Ao chegar no hostel ele nos cobrou 2 corridas, uma para nós e outra para a australiana.

Para a gente foi tranquilo, mas a australiana pagou 10 euros sozinha.

Tomamos um banho e rapidamente fomos para rua comer alguma coisa e tomar uma cerveja.

Tinham muitos jovens na rua e os bares estavam cheios, mas não lotados.

Tomamos uma de leve e voltamos para o aeroporto para pegar o ônibus para o porto e enfim pegar o ferry pra Paros, a primeira ilha do roteiro.

 

Uma parada na ilha de Paros

Mal entramos no ferry e fomos logo para o bar do terraço, afinal aquela vista merecia uma cervejinha.

Tinha pesquisado sobre a ilha e tinha visto que era menos badalada que Mykonos e Ios, mas mesmo assim tinha muita festa.

Já estávamos viajando há 8 dias, vindo de Ibiza e Barcelona, onde praticamente não dormimos.

Paros foi o descanso necessário.

Movimento de turistas tranquilo em Parikia (principal cidadezinha da ilha) restaurantes com pouco movimento, reflexo da situação em que o país se encontra.

Chegamos ao hostel, encontramos o resto da galera e alugamos um carro e quadriciclos para conhecer a ilha.

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Fomos para a praia de Punda, uma das mais badaladas e que tinha um beach club com DJ e tal.

Mais uma vez, vazia! Fora nosso grupo, tinha mais umas duas pessoas e só.

No outro dia, fizemos um passeio de barco por Antiparos (ilhota colada a Paros) muito top.

Open bar e open food (preciso dizer mais alguma coisa?) com um visual paradisíaco em pleno mediterrâneo.

O open bar era de um vinho verde meio ruim que misturamos com sprite e ficou uma maravilha.

Não estava rolando nenhuma balada na ilha então ficamos de boa porque no outro dia a gente pegava o ferry pra Ios.

O fervo de Ios… cadê a crise?

 

Enfim Ios, a ilha mais esperada da viagem. Mal desembarcamos do ferry e já vi uma outra realidade.

Por ser maior e mais famosa, o porto estava lotado.

Achamos o transfer paro o hostel e conhecemos um grupo de australianos (só tinha australiano nessa porra!) e imediatamente começamos a tomar uma.

Aquele mesmo vinho do barco, só que agora achamos cinco litros por sete euros (daí tu tira a qualidade…).

Chegamos no hostel beira mar, piscina top e zero sinal de crise.

Caixa eletrônico na recepção sem limite para estrangeiros, musica rolando, só gata e geral bebendo muito.

Check-in feito em segundos e fomos logo para a resenha.

Chegando na piscina descobrimos que ia rolar uma wet t-shirt party.

150 euros para a campeã e as gringas enlouqueceram.

Parabéns às envolvidas, que evento!

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Wet T-shirt party

 

 

Passamos três noites em Ios e foi basicamente isso.

Farra na piscina do hostel de dia e de noite íamos para o centro.

No último dia alugamos quadriciclos e fomos dar uma volta na ilha. Fomos para duas praias, uma perto do porto e outra bem afastada mas que valeu a pena.

Mykonos e SUS da Grécia

 

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No dia seguinte fomos para Mykonos, a ilha mais famosa.

E foi lá que vivenciei a única parte negativa da viagem.

Desde Ibiza a gente vinha mergulhando bastante e meu ouvido, que já tinha bronca longa data, não “aguentou”.

Estava doendo muito e eu achei que fosse a água.

Tentei tirar com álcool e nada de melhorar.

Decidi ir no médico para dar uma olhada.

A conexão de internet da ilha era muito precária e eu não consegui acionar o seguro, então decidi ir no Hospital Público.

Chegando lá, que era um posto de saúde, logo fui atendido.

O único médico de plantão era um ortopedista!

Após me examinar e descobrir que estava com otite, disse que o máximo que podia fazer era me passar uma receita pois não tinha remédio lá.

Seguindo a orientação dele, fui ao hospital privado que era bem dizer ao lado.

E foi aí que a coisa ficou preta.

Meu celular tinha descarregado e eu, novamente, não tinha conseguido falar com o seguro.

Mesmo assim entrei na clínica e logo fui encaminhado ao consultório.

O procedimento, bem simples, não durou mais que 20 minutos. “Pronto amigo, foi apenas 300 euros. ”

Apenas 300 euros? Tá de brincadeira né?

Disse que meu dinheiro estava no hostel e pedi para voltar lá.

Ele mandou o motorista da clínica me levar, cobrando mais 20 euros por isso.

Quando cheguei no hostel, contei o que tinha acontecido à Maria (recepcionista do hostel que me ajudou muito) e ela quase surtou.

Disse que 320 euros era um absurdo e me aconselhou a não pagar.

Terminou que eu liguei para o médico e após negociar, fechamos por 100 euros, menos mal.

Foi assim que minha história ficou famosa e tudo que era staff veio falar comigo perguntando como eu estava. Obrigado Maria!

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Essa aí é a Maria, meu anjo da guarda lá na Grécia

 

No outro dia, acordei bem para aproveitar a última noite na Grécia!

Fomos para uma balada numa praia próxima.

Ostentação para caralho!

Geral bebendo champagne e garrafas enormes de vodka!

Preferi ficar na cerveja, né?!

Deu um tempo de festa e tentei ir para a praia, na frente de onde estávamos. O segurança me barrou, se tratava da área VIP.

Quando começou a tocar música brasileira a galera de uma mesa VIP perto da gente chamou eu e um amigo para lá.

Foi aí que a festa de verdade começou! Os caras iam há 5 anos pra Mykonos e já eram da casa. Era despedida de solteiro de um deles, então pense numa farra!

Na mesa atrás da que eu estava, tinham dois caras tomando uma pesada.

Não demorou para descobrir que eram brasileiros também.

Jogadores de futebol na Grécia!

Pense em dois caras gente boa!

Trocamos uma ideia, tomamos uma e eu acabei pegando o contato deles. Não sabia se eram realmente jogadores, disseram que eram artilheiros do Campeonato Grego e tudo.

Acreditei e ainda tirei uma onda com eles.

E não é que um deles era jogador mesmo? Jogou até no Panathinaikos hahaha. Estou até com o contato dele aqui, nunca se sabe né?

E assim, infelizmente, terminou a viagem mais foda do intercâmbio.

Inesquecível em todos os sentidos.

Apesar de sua essência turística e encantadora, tem muita coisa acontecendo e que o turista não enxerga.

Externamente o verão grego continua o mesmo, com muito sol, curtição e paisagens quase idílicas.

Mas na real o bicho ta pegando!

Desde o taxista à facada no médico, o alerta está ligado.

Agora resta esperar pra ver qual o real impacto que a situação grega vai gerar na economia economia européia e como o povo vai reagir. Se não acabarem com tudo, um dia eu volto!

Abraços galera, até uma próxima!

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5 Replies to “Turismo Ousadia: Um pernambucano no caos da Grécia pré-calote”

Higor Acioli

Ótimo texto Iagão!!
Que viagem!!
Realmente a maioria dos turistas não conseguiam enxergar o que de fato rolava na Grécia, pequenas atitudes dos nativos que demonstravam o tamanho da crise. Não sei se tu lembras, um bar na beira-mar de Ios que dizia o seguinte “Ajude a Grécia, estamos em crise, PAGUE O DOBRO”

Abraço

Raul F

Legal, meu filho. Mais uma boa experiência para você! Abraço.

Tereza Augusta maciel

Queridooooo… Texto maravilhosooo!!! Delícia de ler! Super parabéns! beijo

helio

As fotos estão muito pequenas! não dá pra ver direito.

tiagombp

Isso me lembrou 3 viagens que fiz para Praga num intervalo de 6 meses, uns 15 anos atrás, com gente de todo tipo tentando te “empurrar a faca” com as desculpas mais esdrúxulas possíveis… O cara que alugou o apto cobrando a mais do que o combinado “porque precisava criar três filhos”, o cara do quiosque na praça cobrando mais pela bebida do que o que estava no quadro de preços do lugar porque era o “night price”, galera no restaurante cobrando mil e uma “taxas” que não estavam no cardápio (aparentemente taxa pelo guardanapo, pelos talheres etc.) e, para coroar, policiais cobrando e recebendo uma “multa” em dólares americanos (perguntei “mas como pode o valor da multa ser em dólar? E a moeda de vocês?”, resposta: “você que ir lá na delegacia conhecer o nosso código de trânsito?”, “não, não, seu polícia, tá aqui os 100 dólares da multa, fica com Deus, tá?”).