Uns tempos atrás, o Daniel Denard do YogIn gravou um podcast interessante pra caramba sobre preconceito com meu livro Missão Paulo Coelho como pano de fundo.
Missão Paulo Coelho é um livro que quase ninguém leu. Dos 7 títulos que eu tenho, esse aí foi disparado o que menos vendeu.
Fiquei puto? Nem tanto… enquanto eu escrevi os outros com o intuito de ser best-seller no Amazon, eu escrevi o MISSÃO PAULO COELHO porque ele tinha que ser escrito.
Foi muito mais pela zueira… pela realização pessoal.
Deve ser por isso que eu quase nunca o promovo aqui no blog e nas minhas redes sociais.
Esses dias, eu tava conversando com meu mentor e coach Michel Helal e ele soltou essa:
“Raiam, já li todos os seus 7 livros. O Missão Paulo Coelho é o mais top de todos”
Fiquei meio cabreiro, é claro. Estou acostumado a ouvir elogios do Wall Street, do Hackeando Tudo e até do Imigrante Ilegal… nesse ano inteiro, acho que só recebi um ou dois emails citando o primo mais pobre da minha obra literária.
O comentário do Michel me fez ter um pouquinho mais de confiança em cima do livro e me fez resgatar o podcast que o Daniel de Nardi (YogIN App) gravou um tempo atrás sobre perdas, preconceitos e sobre a loucura de escolher ser escritor como profissão no Brasil.
Segue o podcast aí. Se não tiver paciência de escutá-lo, a transcrição completa está logo abaixo do quadro do SoundCloud.
Vamos falar também sobre preconceitos, clichês e sobre como isso dificulta a nossa verdadeira impressão do mundo.
Certamente quando você lê o título desse podcast, se você acompanha os outros podcasts, você deve ter estranhado… Paulo Coelho?
Nos outros podcasts, a gente falou sobre Veda, sobre textos antigos e clássicos da Índia…
Bom, esse preconceito pode até ter impedido você de ouvir esse podcast.
Pode ser que você tenha pulado ele, aí ouviu os próximos, gostou e voltou para ouvir esse.
Porque, nos próximos podcasts, em algum momento, eu vou remeter a esse podcast porque ele é importante para a gente entender justamente o quanto a gente perde quando cria esses estereótipos e não faz uma investigação da real natureza das coisas… do que que de fato está por trás das opiniões e qual que é a intenção das palavras.
O podcast de hoje vai falar um pouco sobre linguagem, e vai falar um pouco sobre como isso dificulta ou facilita a gente de encontrar a nossa real natureza e colocar isso em prática.
Bom, eu mesmo tinha bastante preconceito em relação ao Paulo Coelho.
Isso é algo de praxe no brasil.
Você não pode falar que você gosta de Paulo Coelho que você já é mal visto.
Então eu, de fato, li algumas páginas de Brida e criei esse estereótipo por uma conveniência social, como todo mundo faz.
Então, no meio literário, existe isso de falar mal do Paulo Coelho, assim como no meio das artes existe o clichê de falar mal do Romero Brito.
Eu tinha um pouco desse preconceito.
No primeiro livro que eu li do Raiam, ele menciona o Paulo Coelho como uma das pessoas que influenciaram muito ele. Daí você já cria um preconceito dizendo:
“Ah, o cara ama o Paulo coelho, logo, ele é um escritor de segunda linha.”
Só que, o que inspira o Raiam, nem é a obra do Paulo Coelho mas o fato dele ser brasileiro e conseguir ter um sucesso internacional inegável.
Porque o ponto aqui é justamente esse: se o Paulo Coelho está produzindo um tipo de literatura que as pessoas estão lendo, e estão gostando, recomendando estão comprando outros livros, é que de fato alguma coisa que ele está transmitindo tem valor para essas pessoas.
Pra muita gente não tem valor.
E a gente não pode achar que existe algo que é mais cultural que é mais importante para a cultura das pessoas.
O que é mais importante pra cultura de cada um, só essa pessoa pode saber.
Então, por exemplo, é clichê você falar mal de religião.
Mas para a pessoa que está adotando aquela religião, que segue aquela religião, aquilo de alguma forma tem valor… porque senão, ela não iria no padre, no bispo, ou quem quer que seja.
Ninguém aponta uma arma para a cabeça da pessoa para ela ir no culto aos domingos. Ela vai por espontânea vontade porque, de alguma forma, aquilo tem valor pra ela.
Da mesma forma, ninguém é obrigado a ler um livro do Paulo Coelho.
E se ele vende em mais de 30 países, 200 milhões de cópias, é porque a obra dele tem algum valor para as pessoas… isso é inegável.
Mas, você criando esse clichê (e talvez fosse uma obra que tivesse um valor para você) mas quando a gente cria o clichê, quando a gente cria o estereótipo, a gente nem dá a oportunidade de conhecer e entender aquilo.
Como por exemplo, no caso do Raiam, que você já acha que ele é leitor apaixonado mas ele só leu um livro, dois do Paulo Coelho.
Ele tem uma admiração, e o Paulo Coelho merece essa admiração, pelo reconhecimento internacional como escritor.
Não é simples você vencer no Brasil como um todo.
E como escritor, é ainda mais difícil.
Então alguém que conseguiu isso merece o reconhecimento da sociedade, mesmo que o tipo de literatura não agrade aquela pessoa mas o reconhecimento como um impacto social, como um impacto de conteúdo para as pessoas, isso é inegável que o Paulo Coelho tenha.
Para você entender como é difícil ser escritor no brasil, uma vez eu estava lendo uma biografia do John Paul Sartre, que é um escritor francês, e ele contava que ele estava tendo um caso com uma prostituta.
Ela perguntou pra ele o que ele fazia e ele disse que ele era escritor.
Ela disse assim:
“Ah, eu também pretendo ser escritora”
E naquele momento eu parei e pensei:
Como assim? Como a pessoa se propõe a profissão de escritor? Isso no Brasil não cabe!
Dificilmente você sabe da história de alguém que virou para os pais e falou: vou ser escritor!
Isso é muito difícil, muito raro.
Mesmo no meio literário é comum as pessoas terem outros trabalhos e não se assumirem apenas como escritores
E ai começa já uma identificação do que o Raiam tem em relação ao Paulo Coelho.
O Raiam também assumiu essa postura de que ele queria ser um escritor reconhecido mundialmente.
Sendo jovem e brasileiro, isso não é algo simples.
Você tem que ter de fato um nível de coragem, de confiança no seu próprio mérito, bastante grande para você assumir isso, largar emprego e começar a viver de renda de livros.
Isso é muito difícil no Brasil.
Só que o Raiam, apesar de ele querer ser escritor e já ter isso como uma missão desde muito pequeno, ele não frequentou oficinas literárias… ele nunca foi a um festival de literatura de Paraty.
Como pode hoje ele que é um dos escritores mais vendidos digitais do Brasil? Como pode esse escritor que é o numero um da Amazon em algumas categorias nunca ter feito uma oficina de arte, ter tanto sucesso e nunca ter ido, quem sabe, nunca será convidado para esse festival que é o festival mais importante de literatura, que acontece em Paraty.
Porque o meio literário também tem os seus estereótipos.
O meio literário, ele tem uma estrutura que se você não se encaixa dentro dessa estrutura, dificilmente você vai ascender no meio literário.
Então vamos falar especificamente da literatura do Brasil.
A literatura do Brasil como um todo, ele tem uma média, as pessoas que emitem opinião no brasil, a media, é que os personagens, eles tem que ser pessoas urbanas que vivem uma dificuldade amorosa, uma dificuldade financeira, e que fazem muitas reflexões em cima daquela vida difícil.
O padrão de literatura, de narrativa como a do Raiam, que é você seguir a sua própria vontade, você ter confiança em você mesmo, você fazer seus sonhos se tornarem realidade… esse padrão de narrativa não é aceito no meio literário brasileiro.
Para a pessoa subir no meio literário brasileiro e ser reconhecida, isso não quer dizer vender livro.
Isso quer dizer que vão dar nota para você, os “especialistas” vão falar sobre você, quem ganha Prêmio Jabuti… esses prêmios todos… esse é o padrão da literatura brasileira
E o Raiam não se encaixa nisso.
Talvez, se ele tivesse frequentado essas oficinas literárias ou se tivesse ido a algumas FLIPs, isso teria dificultado a carreira dele como escritor.
E aí vem o quanto o meio acaba influenciando e, muitas vezes, impedindo a pessoa de realizar a sua própria natureza porque a força do meio é muito maior que a força do indivíduo.
O indivíduo tem que ter, de fato, o conhecimento de si e uma certeza de que o que ele produz tem valor para ir contra o meio.
Porque pode ser que se encaixe.
Como por exemplo, vamos dizer o caso literário, não é errado que esse padrão de narrativa que existe hoje no meio literário brasileiro.
Mas pode ser que não se encaixe com aquela pessoa, como no caso o Raiam.
Não é o estilo dele fazer o papel de vítima.
Não é o estilo dele ficar o livro inteiro falando sobre o quanto o coração dele está desiludido por conta da mulher.
O trabalho dele, a vida dele, o que é real nele é que ele é um cara que corre atrás do que ele acredita, busca, faz um esforço, passa as dificuldades para realizar aquilo que ele acredita.
E ele põe inclusive o conceito de magia, que o Paulo Coelho é um mago, como a magia é a capacidade de que nós temos de transformar as nossas vontades em realizações.
E isso não se encaixa jamais como um padrão literário.
E é muito triste isso porque você tem a perda dos dois lados.
O Raiam nesses círculos de literatura poderia ganhar… ele poderia ganhar indo a uma FLIP.
Mas, por outro lado, a influência desse meio poderia ser tão grande que poderia tirar a sua narrativa, que é uma narrativa totalmente própria, totalmente verdadeira, porque ela é muito sincera.
Então esse é o ponto.
Como o trabalho dele é de uma sinceridade, ele não está ali para agradar ou para dizer:
“Ah, o crítico de arte da Folha não iria gostar… ou eu não citei Dostoevsky”
Essa não é a linha dele.
A linha dele é ser verdadeiro… ser sincero com aquilo que ele acredita.
E esse último livro dele, que é o Missão Paulo Coelho, mostra essa busca de uma verdade, de algo que é totalmente seu, totalmente pessoa… uma busca que todo mundo deve procurar encontrar.
O que de fato é seu? Como que aquilo que você tem pode ajudar as outras pessoas? Como que aquilo pode contribuir para que, de alguma forma, a gente tenha uma sociedade melhor?
Isso não é utópico no sentido de “Ai, vamos resolver todos os problemas do mundo”.
O ser humano sempre vai ter problemas mais complexos e vai ter dificuldades. Faz parte da vida e elas são até estimulantes importantes.
Mas o ponto é que cada um pode fazer um pouco a mais…e isso acaba se refletindo como realização profissional ou pessoal.
À medida que eu li um livro (no meu caso, eu ouvi… eu prefiro ouvir os livros.. o Raiam tem todos os livros dele no aplicativo chamado Ubook, que é um aplicativo que você assina e tem audiobooks em português e outras línguas também. Não tem um acervo tão grande como o Audible, mas o Audible é só em inglês, então quem quer ouvir em português, Ubook).
Então a contribuição para a sociedade é demonstrada à medida que eu repito ou sugiro o trabalho daquilo que influenciou a minha vida.
Daquilo que, de alguma forma, me tocou de forma positiva e me ajudou.
Então eu lendo um livro do Raiam, eu li outro livro, de alguma forma ele está contribuindo para mim, e eu estou demonstrando isso “comprando” eles (eu falo entre aspas pois não sei exatamente como é o sistema do Ubook)… mas eu estou consumindo o produto dele.
Então, de fato, ele está fazendo um trabalho que é sincero, que é dele e está ajudando outras pessoas.
Se não fosse por isso, ele não seria o maior vendedor de livros digitais do Brasil.
Então é essencial essa busca da verdade para que você possa ajudar e contribuir com as outras pessoas.
Não produzir algo que as pessoas do meio vão ver… mas algo que seja seu… que seja profundamente sincero.
Só assim você consegue contribuir, ajudar as outras pessoas e a gente tornar o mundo um lugar um pouquinho melhor.
Eu acredito que, de fato, se cada um fizer um pouquinho, a minha vida é muito ajudada por pessoas que contribuem e que produzem conteúdos relevantes e que me ajudam a viver melhor, viver mais feliz, viver com a minha mente mais tranquila.
E eu agradeço isso a essas pessoas… agora um agradecimento especial ao Raiam pelos diversos livros que eu já li dele e que me impactaram e, de alguma forma, trouxeram algo positivo.
E eu espero que você também consiga buscar a sua verdadeira narrativa, seja ela como for, seja ajudando outras pessoas, com o seu trabalho, ou com uma ação voluntária… e que aí a gente possa viver num mundo melhor.
Uma boa semana a todos e nos vemos no próximo podcast.
~Daniel de Nardi