Durante dois anos da minha vida, toda minha correspondência pessoal ia para Calcutá e Mumbai. Isso porque meu velho conseguiu um trampo na Jet Airways da Índia foi trabalhar por lá depois que a Varig faliu.
Durante meus anos de University of Pennsylvania e de mercado financeiro, fiz uns rolés sozinho pela África, pelo o Oriente Médio e pelo Sudeste Asiático. Então o que não falta no meu passaporte é carimbo de país pobre.
Tenho tanto carimbo de país pobre que, quando fui entrar em Israel a partir do aeroporto de Tel Aviv, fiquei umas 5 horas retido na imigração. O serviço de inteligencia israelita tava quebrando a cabeça para saber qual era o background daquele brasileiro mal encarado e com um monte de carimbo de país pobre.Acho que pensaram que eu era traficante internacional de drogas, sei lá.
Fui pro Panamá semana passada na expectativa de ostentar mais um carimbo de país de pobre mas dei de cara com um país mais moderno e endinheirado do que o nosso. Clica aí do lado para ler a Parte 1. Dubai das Américas e a Parte.2 Made in China dessa série de “reportagens”.
Para não dizer que o lugar lá é uma Suíça, vou confessar que vi umas características de país subdesenvolvido.
A primeira é a presença de arame farpado e cercas elétricas nos muros das casas pela cidade.
Passei dois verões nos Hamptons no litoral de Nova York e se eu vi umas 3 casas com cerca acima da cintura foi muito. Pode colocar qualquer lugar top aí dos EUA: mansões estilosas de Miami Beach, La Jolla e Palos Verdes não têm nada separando a porta de casa da rua. Muro? O que é um muro?
A verdade é que arame farpado, muro alto, cachorro grande e cerca elétrica indicam um certo nível de medo na população.
Quando tu passa por um lugar e já dá de cara com um desses 4 fatores, pode botar fé que a percepção de segurança é bem baixa.
Não vou me extender e dar uma de sociólogo filiado ao PT mas as taxas de desemprego, o nível de instrução das classes mais baixas, a desigualdade social e a criminalidade andam de mãos dadas com isso aí.
Me senti seguro na Cidade do Panamá mas quando fui pra Colón, o caldo apertou.
Já tinham me avisado que Colón era perigoso mas eu pensei assim: “Eu… negão… jogador de futebol americano… quase 100kg de carcaça… macaco velho de baile funk e frequentador da Babilonia, Chapéu Mangueira, Rocinha e Complexo do Alemão… como é que eu vou ter medo de Colón?”.
Primeiro que no caminho para o porto livre, o ônibus parou bem em frente a um vilarejo onde a polícia estava fazendo perícia de um corpo esquartejado na beira da estrada. Pela reação dos curiosos que circulavam a cena, o sangue tava fresco ainda. O negócio devia ter acontecido naquela manhã ali mesmo.
Uns 5 minutos depois, o velhinho tava trocando idéia comigo desde a rodoviaria da Cidade do Panamá apontou pro meu headphone boladão e alertou: “Quítatelos y ponlos en la bolsa”. Senti firmeza no conselho dele e nem tirei o celular do bolso.
O negócio lá era brabo. Estava no Zimbabwe. E os locais me olhavam torto. Sabiam que eu não era dali. E eu sabia que se eu não metesse o pé pra rodoviaria logo ia rodar.
Eu, preto que só eu, tava me sentindo um alemão com Rolex no pulso, camisa florida e câmera no pescoço tentando subir as ladeiras da Lapa. Por isso que eu não tenho nenhuma foto da cidade de Colón, só lá dentro do porto livre.
A segunda característica de país subdesenvolvido e a mais gritante de todas é o trânsito caótico.
O trânsito ali só não é pior que na Índia. Papo reto. Dos lugares que eu fui com trânsito ruim… bota aí Marrocos, Palestina, Tijuana, Buenos Aires, Rio, São Paulo, Istanbul… tudo mamão com açúcar comparado com aquilo ali.
Além do excesso de carros na cidade e dos infinitos engarrafamentos (levamos 2 horas para cobrir uma distancia de 18km), a real é que ninguém respeita ninguém!
Os sinais nos principais cruzamentos não funcionam, os carros trocam de faixa no último segundo sem ligar a seta e o pedestre sempre se fode na hora de atravessar a rua.
O motorista que trabalhou para a nossa Seleção esteve a ponto de bater com o ônibus umas 10-15 vezes (e o pior que não estou exagerando aqui).
Já recebi algumas propostas de headhunters para trabalhar com finanças na Cidade do Panamá. Se um dia eu for morar lá, pergunta se eu vou comprar carro?
E a parte mais engraçada é que ninguém xinga ninguém no trânsito. Tem algo errado nisso aí. Se o cara faz uma bandalia na hora de trocar de faixa e o outro motorista não buzina nem manda ele tomar no cu, é sinal de que é aceitável fazer merda no trânsito e que nego tá tão acostumado com isso que ninguém liga.
Vai vendo!
Bom, falei de coisa boa, falei de coisa ruim e falei do imperialismo chinês em terras panamenhas. Na parte 4, vou dar meu veredito: será que vale a pena investir em ações do Panamá?
“
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