Durante toda a sua história, o Panamá era parte da Colombia. Até hoje, o espanhol falado pelos panamenhos é o espanhol da Colombia, com sotaque e expressões parecidíssimas com a do povo lá de Bogotá.
Só que no inicio do século XX, os EUA decidiram construir um canal ali para cortar pela metade a rota dos navios de sua marinha mercante e estreitar a distancia entre os portos da costa leste e a California, cuja economia não parava de crescer graças a economia gerada durante os anos da corrida do ouro.
Como é que os caras vão construir um canal ali se o território faz parte da Colombia?
No problem. Os americanos foram lá com o big stick na mão, botaram dinheiro e ajuda militar para financiar a independencia do lugar e criar um novo país-marionete no ponto mais estratégico da América Central. Nascia assim o Panamá.
O Panamá foi por décadas e décadas como um 52o estado dos EUA (no caso o 51o seria Porto Rico né?). A própria Zona do Canal foi territorio americano de sua fundação em 1914 até 1999, quando os panamenhos começaram a operar o canal e botar a grana do pedágio dos navios no bolso.
A herança está lá até hoje. A população é quase toda bilíngue. A moeda continua sendo o dólar americano. Os sobrenomes do povão não são compostos por Hernandez e Garcias como nos países vizinhos. Ali tem muito Jones, Brown e Williams.
Outra coisa que eu achei interessante foi a presença de marcas locais dos EUA.
Vou explicar o que eu quero dizer com marcas locais.
Você vai a qualquer grande metrópole do mundo e vê marcas americanas como McDonalds, Citibank, Hard Rock Cafe, Budweiser e Starbucks no topo de predios e nos outdoors espalhados pela rua.
Essas aí são as marcas globais dos EUA, empresas com marcas fortes fora dos Estados Unidos e que derivam grande parte de suas vendas no exterior.
Marca local é aquela que você só vê nos mercadinhos de bairro e nos guetos dos EUA, lojas dedicadas apenas ao mercado consumidor interno. E não é que o Panamá estava cheio dessas marcas locais americanas como Payless Shoe Source, Popeye’s Chicken, Carl’s Jr, Cinnabon, entre outras? Fiquei de cara com isso.
Não tenho bola de cristal mas já visualizo essa influencia americana diminuindo através dos anos e dando lugar a outra corrente. Uma corrente de olhos puxados, sotaques carregados e de letras complicadas.
Os chineses vão dominar o mundo.
Cara, e o pior é que eu não estou brincando. O Panamá é um microcosmo disso aí.
Cursei relações internacionais na faculdade e li muito sobre a importancia estratégica do Canal do Panamá para a humanidade atual.
Nego quase não fala do Panamá por aí mas o Canal é uma região tão importante quanto Tel Aviv Jaffa foi na antiguidade, quanto Constantinopla foi na época das Grandes Navegações e quanto Suez foi na época da descoberta de petróleo no Oriente Médio.
De acordo com um monte de especialistas em macroeconomia, o boom econômico da China na última década beneficiou principalmente os grandes exportadores de minerio de ferro como Brasil e Australia.
Não nego isso mas acho que quem mais se deu bem com o efeito China foi o Panamá, meu amigo.
Todo navio da China para a Europa Ocidental ou para a Costa Oeste dos Estados Unidos tem que passar por ali e deixar um troquinho de pedagio. E não foram poucos os chineses que passaram por ali não hein? Se liga na quantidade de navio esperando pra passar no canal.
E os chineses não deixaram apenas brinquedos de 1.99 no Panamá. Eles fincaram bandeira!
Saí pouco do hotel mas todas as lojas que visitei no centro da Cidade do Panamá tinham donos chineses: a padaria, a banca de jornal, a farmacia, a lavanderia e até a mercearia da esquina. Tudo China!
Na segunda feira, o último dia antes da minha volta ao Brasil, peguei um buzão na rodoviaria de Albrook e fui visitar a Zona Libre de Colón. Colón é nada menos que o segundo maior porto livre do mundo.
Porto livre é o porto onde as mercadorias podem passar por ali sem pagar imposto nenhum. Tem poucos mundo afora (todo mundo gosta de ganhar uma graninha com impostos) e os dois mais importantes estão em Hong Kong e em Colón.
Enquanto meus companheiros de Seleção foram passear pelas águas cristalinas do Caribe, eu fui lá investigar aquele tão famoso porto livre.
Não gosto muito de praia e já tinha conhecido o Mar do Caribe numa viagem que eu fiz com os amigos para o Spring Break de Cancún em 2013.
Porto livre? Além de conhecer um lugar raríssimo no mundo, eu podia até me dar bem e encontrar umas muambinhas legais para levar de volta pro Brasil.
Vale lembrar que, mesmo fora de Colón, os eletrônicos, perfumes e roupas de marca no Panamá são muito baratos. É que o governo de lá prioriza o comércio exterior e não fica enfiando IOFs e impostos de importação na porra toda para “proteger” a economia local e fuder o consumidor.
Se liga só no preço da gasolina? Apenas 63 centavos de dólar. Fazendo as contas aqui com o cambio a R$2.80, o litro da gasolina sai por R$1.76! E olha que no Panamá não tem pré-sal hein! Nem ICMS, CIDE, PINS, COFINS, PASEP, etc…
Parceiro, o negócio era do tamanho de uma cidade.
Eram milhares de galpões com um showroom na frente vendendo eletrodomésticos, roupas e tênis de marca, brinquedos, perfumes, motos, bicicletas, móveis, celulares, máquinas… tudo em atacado.
E parecia que eu estava em Guangzhou.
As vitrines de 99% dos lugares tinham inscrições em chinês e toda a galera que andava de loja em loja que nem eu tinha olhos puxados.
O lugar tinha televisões flatscreen a 80 dólares, microondas cromados a 50$, perfumes Paco Rabane a 15$, relógios da Armani a 50$, tudo original. Entrava nas lojas para comprar as paradas a preço reduzido e sempre ouvia a mesma coisa no mesmo espanhol arrastado: “solo vendemos al detal”.
Eram os chineses imperialistas da zona livre do Panamá dizendo que só vendiam mercadorias por atacado.
Já que o porto é livre, o comerciante não precisa pegar 20 horas num avião da Cathay Pacific e acordar virado em Shanghai para negociar com seu supplier que mal sabe falar inglês. Ele vai ali no Panamá, pega as mercadorias pelo preço que ele encontra China e faz um bate-e-volta. Sem pagar imposto.
A tendência do Panamá é virar um território chinês do lado de cá no mundo.
Não duvido que as escolas panamenhas comecem a ensinar chinês como língua obrigatoria.
Afinal, o país vive de comércio e quem produz a maioria dos bens de consumo do mundo? Da onde vem a maioria dos navios que cruzam o canal?
Num ano fraquíssimo para economia mundial com recessão na Europa e PIB de 0.9% no Brasil, o Panamá cresceu 6.5%. Que outro país cresceu tanto assim em 2014?
A resposta para todos os pontos de interrogação no texto acima é uma só: China, my friends… a China!
Na parte 3, eu vou mostrar que nem tudo são flores e o que o Panamá tem sim algumas características de país subdesenvolvido.
“
Curtiu o post? Então chega lá na minha lista de email!
LIVROS
Curtiu mesmo? Vai lá no Amazon ou no iTunes e dá uma olhada nos meus dois livros publicados:
Hackeando Tudo: 90 Hábitos Para Mudar o Rumo da Nossa Geração.
UBOOK
O Ousadia e o Hackeando Tudo estão disponíveis em versão audiobook no aplicativo UBOOK também!
Já experimentou audiobooks? Toma aí um desconto para ganhar UM MÊS GRÁTIS de audiobooks ilimitados no Ubook.
AMAZON AUDIOBOOKS
Se você curte audiobooks e manja do inglês, altamente recomendo que você crie uma conta no Audible.
Clica aqui embaixo para desenrolar 2 audiobooks grátis lá no Audible.
Try Audible and Get Two Free Audiobooks
PALESTRAS
Para informações sobre palestras, envie um email diretamente para minha equipe em [email protected].
Hey,
o que você achou deste conteúdo? Conte nos comentários.