Como eu descrevi naquele post do café com o megainvestidor Luis Stulhberger, trabalhei 2 anos da minha vida em Nova York como analista de equity research de um grande banco de investimento.
Tenho 25 agora e fiquei lá entre meus 21 e 23.
O que faz um analista de equity research com essa idade?
Tudo o que o chefe e o cliente pedem.
Meu chefe passava o dia no telefone conversando com investidores do buy-side.
Para a galera que não tá ligada no jargão do mercado de capitais, “buy-side” são os caras que compram os produtos de investimento que o “sell-side” tenta empurrar.
No buy-side, estão os fundos de pensão, as assets, os hedge funds e também os fundos soberanos que reinvestem a riqueza de lugares como Dubai, Abu Dhabi, Cingapura, Noruega, Qatar, etc.
No sell-side, estão os bancos de investimento e corretoras de valores.
A orientação que vinha de cima era não gastar tempo com clientes pequenos.
Sabe o que era um “cliente pequeno” pra gente?
Aqueles analistas e gestores que trabalhavam em fundos de investimento com menos de 1 bilhão de dólares sob gestão.
Vai vendo!
Meu trabalho como junior era fazer com que meu chefe tivesse a melhor reputação possível com esses investidores.
O negócio era simples: se ele mandasse bem gerando idéias e dinheiro para o banco, eu ganharia um bônus gordo em dólar no fim do ano.
O cara consegue ter esse respeito do mercado dando análise e informação de qualidade, entregando bons relatórios e fazendo as melhores recomendações possíveis a esse pessoal.
No fim do dia, a pergunta era uma só: você ajudou seu cliente a ganhar dinheiro?
Nosso time cobria algumas das maiores empresas de transporte e infraestrutura da América Latina. Se liga na lista:
Companhias Aéreas: AviancaTaca, LAN, TAM, GOL, Spirit Airlines, Copa Airlines
Rodovias: CCR, Arteris, Ecorodovias, OHL México
Portos: Santos Brasil
Ferrovias: ALL Logística
Aeroportos: GAP, ASUR e OMA
Operadoras de logística: Tegma, JSL e Wilson Sons
Locadoras de veículos: Localiza
E o que significa “cobrir” essas empresas?
Coisa pra caramba!
– Análise de balanço, DRE & fluxo de caixa
– Modelagem financeira no Excel
– análise em tempo real de múltiplos de mercado
– conference calls com diretores das empresas
– conversas com clientes dessas empresas
– viagens a conferências e investor days
– leitura de relatórios de consultorias
– visitas físicas às empresas
– pesquisas no Bloomberg, Google News, Broadcast e Valor Econômico
– consultas na CVM e na SEC
– estudos de meteorologia
– análises de gráficos
Resumindo: você tem que ser uma esponja e saber TUDO o que está acontecendo nas empresas da sua lista.
Só que isso é uma tarefa impossível.
Nem o CEO da empresa sabe de tudo que acontece lá dentro.
Mas explica isso pro cliente investidor.
Na visão dele, o analista sell-side é pago pra isso então tem que responder tudo na lata!
Tem um detalhe interessante nesse nosso trabalho: essa pegada de ajudar o cliente a ganhar dinheiro não é só sabendo escolher a ação que vai subir de preço.
Muitos investidores, principalmente o pessoal dos hedge funds, queriam saber quais ações iam se fuder na bolsa (ou você nunca ouviu falar sobre short-selling?).
As companhias que eu mais me amarrava cobrir eram as operadoras de aeroportos do México.
Mas era meio difícil buscar informação delas…
DIETA DE INFORMAÇÃO
Sabe aquela missão do meu livro Hackeando Tudo de aprender com as pessoas mais fodas no mundo e incorporar certos hábitos delas na nossa vida pessoal?
Bom, tenho orgulho de dizer que aquela pegada não parou depois que eu lancei o livro.
Continuo pesquisando, aplicando hábitos novos e aprendendo com gente top através de biografias, blogs pessoais e até conversas pessoais em eventos e conferências que eu tenho ido mundo afora.
Acho que já tenho conteúdo novo suficiente para lançar um Hackeando 2 (mas esse projeto está no fim da fila… quem sabe um dia).
Um desses novos hábitos que incorporei foi a “dieta de informação” que aprendi com o Tim Ferriss.
Ferriss é autor do The Four Hour Workweek.
Acho que falei desse livro em TODAS as minhas palestras.
Papo reto, dos mais de 400 livros que matei desde que terminei a faculdade em 2011, acho que esse aí é o #1, o que mais mudou minha vida e meu modo de pensar.
Ferriss recomenda fazer um rehab e parar de consumir informação nova por um certo intervalo de tempo.
Já parou pra pensar como a gente é bombardeado por informação nova por todos os lados?
E já parou pra pensar como 95% dessa informação que a gente consome não muda porra nenhuma na nossa vida?
Tive uma semana bem braba com a reta final da Missão 200 Livros, com a palestra do IBMEC, com o deadline do StartUp Rio e também com a produção do meu terceiro livro Imigrante Ilegal.
Me disciplinei para não assistir telejornais e não passar mais de 2 minutos nos sites Globo.com, Business Insider e UOL exatamente para me blindar de distrações e executar todos os esses projetos dentro do prazo.
Chamei essa anti-correria de “Modo Buda“.
Além da dieta de notícias, recusei convites para almoços/happy hours e deixei meu inbox acumular com vários emails de leitores.
E olha que eu coloco em todo lugar que não sou mascarado e que respondo email em 24 horas.
(Foi mal, galera. Semana que vem, eu tô de volta).
Mas essa técnica nova funcionou e eu recomendo para todo mundo que empreende e/ou que trabalha com criatividade.
Especialmente quando você está na reta final de um projeto grande.
Deixa para consumir informação do noticiário depois que tu bater teu objetivo.
Falei com meus pais sobre esse meu novo método de produtividade e eles, do alto do conservadorismo e da mente semi-fechada que quase todo pai cinquentão tem, jogaram na lata um pensamento do tipo:
“Ué Raiam?! Mas você agora é palestrante e formador de opinião… você é obrigado a saber tudo o que está acontecendo no mundo”.
Bom, essa semana eu deixei uma passar…
VIVA MÉXICO
A dieta de informação acabou quando abri o Instagram e vi uma galera postando fotos com a legenda “PRAY FOR MEXICO”.
Quem me conhece pessoalmente sabe que eu tenho um laço muito forte com o México.
Aliás, meu próximo livro Imigrante Ilegal é sobre o tempo que eu passei no fogo cruzado das batalhas étnicas entre hispânicos e afroamericanos numa das escolas públicas mais perigosas dos Estados Unidos.
Passei o ensino médio inteiro em uma escola de favela a apenas 15 minutos da fronteira entre San Diego e Tijuana.
Era muleque ainda e tinha meio que uma crise de identidade: não sabia se era latino ou se era negro.
No caso, sou os dois né?
Mas se eu escolhesse os dois lados, apanharia duas vezes.
Muita gente que estudou comigo naquela época tem família em Baja Califórnia, Sinaloa e Jalisco.
Bateu uma preocupação e um aperto no coração depois que eu li que o Furacão Patrícia seria o mais forte da história e varreria a costa oeste do México.
Lamentei por um tempo curto e saí ligando para minha galera.
Quando recebi as repostas que tava tudo bem, logo pensei em dinheiro: quem lucraria e quem tomaria uma trolha com esse furacão do México?
Foda né?
Mas vou te contar que acontece isso com quase todo mundo que já trabalhou em bolsa de valores.
Invisto na bolsa desde os 18 anos de idade e cheguei a viver disso quando estava na faculdade.
Sempre me interessei muito por comércio de commodities, crises políticas, catástrofes naturais, guerras, acordos bilaterais e todas aquelas paradas que saem semanalmente na revista The Economist.
Foi por isso que escolhi estudar Relações Internacionais.
Era muito novinho e meio deslumbrado com o termo “relações internacionais”.
Concorda comigo que é um nome muito mais bonito do que “engenharia metalúrgica”?
Mal sabia eu que RI era um curso com pouquíssimas aplicações no mercado de trabalho tanto aqui quanto nos EUA.
(tenho uma opinião muito forte sobre isso e falei sobre o assunto na palestra COMO GANHAR DINHEIRO COM RI no Ibmec e na Estácio).
O que eu fazia para ganhar dinheiro quando estava na faculdade?
Investir na bolsa!
Pegava uma notícia dessa, fazia minha análise de estudante de RI e comprava ações que se beneficiariam de tal evento.
Comecei com uns 200 dólares que tinha juntado no meu emprego de monitor do laboratório de informática lá da University of Pennsylvania (dá uma olhada no post Investindo em Bolsas Globais Com 300 reais no Bolso lá de dezembro de 2014).
Lembra ali em cima que eu falei que minhas empresas favoritas quando eu trabalhava em Wall Street eram as operadoras de aeroportos do México?
As ações de aeroportos mexiam com comportamento do consumidor, fluxos de turismo, questões climáticas, relações bilaterais entre países, estratégias de companhias aéreas, etc.
E o melhor de tudo: os investor days eram em balneários praianos do México!
Quando você passa muito tempo no frio dos invernos longos de Nova York, tudo o que você deseja ver é uma mulher de biquini tomando sol!
Mas no fundo, no fundo, gostava de cobrir empresas de aeroportos porque elas eram verdadeiras máquinas de dinheiro!
AEROPORTOS MEXICANOS
As empresas de aeroportos do México eram máquinas de dinheiro porque tinham uma estrutura de custo não muito alta (e em moeda local) e um business model feijão-com-arroz estilo Warren Buffet: fáceis de entender e fáceis de administrar.
E mais importante de tudo: por causa dos contratos de longo prazo com as companhias aéreas e com as lojas, elas recebiam dinheiro de uma maneira constante e previsível…. em dólar!
Entendeu porque o governo brasileiro não quer abrir mão na presença da merda da Infraero nos nossos aeroportos?
Agora vai uma prova de que GAP, OMA e ASUR são máquinas de dinheiro!
Sim! Desde outubro de 2010, as ações da ASUR (Aeroporto de Cancún) se valorizaram 300%!!!!
Nada mal!
Mas Raiam, como é que uma operadora de aeroportos faz o dinheirinho dela?
São duas maneiras:
1) Receita regulada
Cada passageiro que aterrissa ou decola naquele aeroporto paga uma taxa para o operador.
Tá ligado quando você compra uma passagem por R$500 mas acaba saindo por R$700?
Essas taxas de embarque vão direto para o bolso da empresa que toca aquele aeroporto.
Além disso, o aeroporto ganha com as “taxas de estacionamento” e “taxas de pouso” de cada avião.
É regulada porque quem determina essas taxas é o governo, por meio de um contrato de longo prazo corrigido por um indexador de inflação.
2) Receita não-regulada
Tudo que tem a ver com aquele novo conceito de “aeroporto-shopping” que estão tentando implantar aqui depois que a Infraero privatizou Guarulhos, Galeão, Campinas etc.
Coloca aí nesse bolo estacionamento de carros, anúncios, concessão de wi-fi, aluguel de lojas, hotéis, restaurantes, etc.
FURACÃO PATRICIA E O MERCADO DE CAPITAIS
Só com esse pouquinho de informação que eu compartilhei já dá pra adivinhar como o mercado reagiu a um furacão desse na costa do México né?
Se liga no que aconteceu com a ação do Grupo Aeroportuário del Pacífico!
Vale lembrar que GAP opera o aeroporto da cidade de Guadalajara e de vários aeroportos de cidades turísticas da costa oeste do México como Acapulco, Puerto Vallarta e Los Cabos.
ASUR não caiu muito porque o aeroporto de Cancún, que é a galinha dos ovos de ouro da companhia, não está na linha de tiro da Patricia.
OMA (Grupo Aeroportuário del Centro-Norte) também não apanhou da bolsa. Seu principal aeroporto Monterrey também está longe do litoral pacífico.
Qual foi a leitura dos investidores quando viram na TV que o Furacão Patricia seria o mais forte da história?
1- Vôos poderão cancelados no fim de semana = menos gente voando, menos aviões estacionando, menos gente consumindo no “shopping”
2- O furacão pode abalar a estrutura de alguns aeroportos do portfolio da GAP que estão no caminho dele, principalmente Guadalajara e Puerto Vallarta = mais custo para a empresa
3- Hotéis e estruturas de turismo nas cidades da GAP podem sofrer danos de longo prazo e essas cidades podem perder a preferência do turista para outros balneários como Cancún, Playa del Carmen e até Cuba = perda de passageiros nos próximos verões.
4- As pessoas podem ter prejuízos pessoais com a devastação causada furacão = menos gente com dinheiro para voar e comprar coisas no aeroporto no médio e longo prazo
Agora de manhã li que o Furacão não foi tão devastador com esperavam.
Aliás, depois que bateu terra firme, Patricia já tomou um downgrade para Categoria 1.
Tô curioso para saber o que vai acontecer com essas ações na segunda feira…
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Solto um conteúdo diferenciado de vez em quando por lá…
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Se liga na versão ebook do meu primeiro livro e best-seller nacional no Amazon Hackeando Tudo: 90 Hábitos Para Mudar o Rumo da Nossa Geração.
… e na versão ebook do meu segundo livro Ousadia: Intercâmbios, Mochilões e Business Trips do Brasileiro Que Deu a Volta Ao Mundo Antes dos 23.
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Dava pra ganhar muitos obamas $ com umas shorts
nú, quem pegou na baixa se deu bem 🙂
Conheci seus escritos semana passada, muito bom mesmo, gosto como vc consegue desenvolver um post longo passando pelas ligações para trocar o foco. Parabens e obrigado pelo trabalho. Abs