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A arte de botar a cara: invadindo a cozinha do melhor restaurante do mundo

Kobe Blog
Escrito por Kobe Blog em 30/06/2016
A arte de botar a cara: invadindo a cozinha do melhor restaurante do mundo

Depois que esse blog estourou e virou um dos mais lidos do Brasil, eu parei de abrir para guest-post.

Abri uma exceção porque o maluco de hoje foi cara de pau ao quadrado… e eu me amarro em gente que bota a cara assim.

O nome do post é “COMO EU ACABEI NA COZINHA DO MELHOR RESTAURANTE DO MUNDO” e foi escrito por um médico chamado Stefano Fiúza lá do Rio de Janeiro.

Meu amigo? Porra nenhuma!

Nunca vi o cara na vida.

Vou contar a história.

No dia que eu voltei da Ásia, eu recebi uns Whatsapps de um número bem estranho.

Vou confessar que odeio quando me mandam áudios.

Isso porque eu tenho que parar tudo o que eu tô fazendo para escutar algo que a pessoa poderia ter facilmente escrito… e não escreveu por pura preguiça.

Pra mim, isso aí é totalmente anti-produtivo.

E o pior de tudo é que o filha da puta me mandou um áudio de 3 minutos.

Sabe por que eu parei tudo para escutar?

Porque ele escreveu o seguinte na mensagem que vinha logo embaixo:

“Pra mim é o equivalente gastronômico da Missão Paulo Coelho”

Caralho… falou a minha língua.

O que é a Missão Paulo Coelho?

missao paulo coelho raiam

Missão Paulo Coelho é o nome do quarto livro que eu “lancei”.

O “lancei” aí veio entre aspas porque ele foi rapidamente censurado e saiu do ar.

Agora eu tô em processo de edição para lançá-lo de novo no Amazon e levar logo para as livrarias.

O livro inteiro roda em volta de uma missão pessoal que eu tinha: conhecer o escritor Paulo Coelho pessoalmente.

Não sou fã dos livros (só gostei do Alquimista) mas me amarro na trajetória pessoal dele e me identifico muito com tudo o que ele passou na infância e na adolescência.

Se tiver um tempo sobrando, eu recomendo que você assista o filme Não Pare Na Pista, a cinebiografia do Paulo Coelho.

Depois de várias tentativas frustradas de encontrá-lo no Brasil, resolvi chutar o pau da barraca e comprei uma passagem para a Suíça para correr atrás do cara.

Fui pra Suíça sem certeza nenhuma de que ia encontrá-lo mas acabei fazendo umas gambiarras bem brabas nível MacGyver e terminei dentro da sala de estar da cobertura dele em Genebra.

Olha a prova aí.

paulo coelho raiam dos santos

O Paulo Coelho não foi a primeira celebridade a participar de uma das minhas missões internacionais.

Ao longo dos últimos 5 anos, já executei missões parecidas com outros “ídolos” que tive ao longo dos anos como Gil Brother Away, Neymar, Messi, Mano Brown do Racionais MC’s, o palestrante americano negão Eric Thomas e também o Ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa.

Esse camarada aí do Whatsapp comprou o livro Missão Paulo Coelho logo no primeiro dia e acabou se inspirando na cara de pau do dono desse humilde site.

Quem é você?

Cara, eu não tenho nem ideia de como ele conseguiu meu Whatsapp.

Hoje em dia, eu fico muito escaldado em dar meu Whatsapp para pessoas aleatórias.

Tive más experiências com prints de Whatsapp então passei a me “blindar” da melhor maneira possível.

Para você ter uma ideia, quando eu conheço uma mina nova eu dou só o meu Instagram e peço para mandar mensagem no inbox de lá.

Escutei o áudio inteiro da história e pedi na lata para que ele fizesse um guest-post para eu botar aqui no blog. História boa tem que ser compartilhada.

O problema é que eu não sabia quem era o cara e tava meio sem graça de perguntar. Afinal, ele mandou o áudio como se eu fosse um parça dele de longa data.

Uns 5 minutos depois, eu mandei a seguinte mensagem:

“Mano.. quem é você?”

Ele riu.

“Mal aí parceiro. Na verdade, acho que você nem me conhece pessoalmente. Que se foda. Acho que eu troquei uma ideia contigo muito raramente no email falando alguma porra de Tinder na gringa. Não, acho que foi sobre uma conferência que tu ia em Hong Kong. Prazer Stéfano Fiúza. Talvez esse nome vai apitar alguma parada na tua mente. Provavelmente não. “

Aí ele terminou o áudio com um simples:

“Essa porra aí”

Eu rachei de rir!

A conclusão foi a seguinte: o maluco é dos meus!

Só bem depois que eu fui descobrir que nós temos o mesmo DNA: Stéfano também estudou no colégio mais pica do Rio de Janeiro, o Santo Agostinho.

(Apesar de ser o mais pica do Rio, tenho minhas críticas ao lugar e fiz questão de botar a cara no post Made in Santo Agostinho: o darwinismo educacional do melhor colégio do Rio de Janeiro.)

Bom, chega de cerimônia.

Com vocês, Stéfano Fiúza e o dia que ele “invadiu” o melhor restaurante do mundo e conheceu um de seus ídolos, o chef Massimo Bottura.

Para quem não manja de gastronomia, o cara é pica das galáxias. Tipo um Jay Z da alta cozinha.

Se liga na Wikipedia dele aqui: Massimo Bottura.

Como Eu Acabei na Cozinha do Melhor Restaurante do Mundo

Por Stefano Fiúza

assimo

Estou fazendo meu terceiro intercâmbio internacional pelo meu Programa de Residência Médica em Cirurgia Geral, dessa vez na Itália.

Quarta-feira, meu aniversário, fui ao hospital normalmente. Só três cirurgias rápidas.

Acabou cedo e eu não tinha plano nenhum para comemorar.

Tava previsto um pequeno curso de cirurgia pâncreas em Paris mas não rolou.

Quer saber? Vou pra cidade de Modena tentar a sorte na Osteria Francescana.

cancanca

O chef lá é o Massimo Bottura e o restaurante acabou de ganhar o prêmio de melhor restaurante do mundo.

A verdade é que esses prêmios sempre são muito polêmicos.

Na real, eu não acredito que seja possível um prêmio tão unânime como “o melhor do mundo”, mas o cara ganhou o prêmio e evidentemente merece a visita.

E eu tinha visto o episódio de Chef’s Table do cara e achei genial.

Queria muito conhecer o restaurante e a figura.

Tentei reservar antes do estágio aqui mas só tinha vaga pra agosto ou setembro.

Lá fui eu.

Peguei meu trem e gastei um dinheiro (só se faz 27 anos uma vez na vida, e vamos fingir que euro e real estão 1 pra 1 pra não sofrer).

Da estação de Modena andei até achar o lugar.

Achei, os fundos.

Falei com um cara “da produção” no meio da rua. O cara não tava nem aí pra mim. 

Falei um outro, que me deixou entrar no escritório com ar condicionado e wifi.

Tava até feio eu ficar em pé ali, no celular, com 4 ou 5 da equipe trabalhando.

fiuza3

Já tinha levado um “não” de não ter lugar pra sentar e jantar etc.

Saí dali e fiquei em uma sombra em frente, onde só devia estar uns 35°C, usando o wifi.

Minha esperança era a seguinte: “Quem sabe o big boss aparece e me salva….”

Eis que pousa um Maseratti preto caótico com o Bottura dirigindo e estaciona ali do meu lado. 

Última chance!

Vou lá e falo com ele… que anda apressado:

“Oi Massimo. Vim do Rio, Brasil, não consegui reservar uma mesa, mas se tem um noshow eu ocupo o lugar. Se não, é meu aniversário e pelo menos uma foto a gente tira.”

Eu falo italiano, mas tava tão nervoso que acho que estava falando svetlano.

E fiz questão de falar do Rio porque sabia que ele vai pra lá durante as Olimpíadas para participar de um projeto social!

“Claro, foto!”

Logo depois, ele soltou um:

“É seu aniversário? Vem aqui.”

O cara me coloca dentro da cozinha e fala com um cozinheiro:

“Faz uma sobremesa bem grande pra ele e põe uma vela azul que é aniversário dele!”.

Do nada, geral começa a cantar parabéns enquanto eu ainda estava tentando entender o que tava acontecendo.

Isso aí… dentro da cozinha, lugar que gosto tanto quanto o centro cirúrgico, tanto que ja ate trabalhei como cozinheiro e esse é meu principal hobby.

fiuzaooo

Eu, sem reserva, conheci o chef e estava na cozinha do “principal restaurante” do momento, no meu aniversário, ouvindo parabéns e comendo torta, com vela e tudo!!

Muuuito melhor do que ter conseguido uma das apenas 12 mesas pra sentar no salão sozinho!

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Fim das contas: comi a sobremesa mais clássica dele, e um filé mignon, e uma salada, e sorbet, e chocolate, enquanto por duas horas acompanho o final do serviço e converso com alguns cozinheiros (cada um de um lugar do mundo).

Galera trabalhando cansada e muito feliz, como costuma ser nas cozinhas por aí, e muito hospitaleiros.

Parecia impossível mas… não é que deu certo??

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É mais uma daquelas histórias que nos faz lembrar que o “não” a gente já tem…

Quem sabe, tentando, a gente consegue um “sim”… Tá até em uma das minhas músicas preferidas dos Stones: “but if you try sometimes, you get what you need”.

Grazie mille, Massimo.

Ci vediamo a Rio.

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Raiam de volta.

Se você tiver uma história de cara-de-pau estilo Missão Paulo Coelho, me procura lá no [email protected].

Tamo junto!