Explicando a crise atual do petróleo: tudo a 40% de desconto!

O principal tema dos mercados globais nas últimas duas semanas é a queda no preço do petróleo. Já até enjoei de abrir o Business Insider e dar de cara com headlines do tipo: “Oil Plunges“, “Oil is Down Again” e “What Low Oil Prices Mean To Investors“.

O bagulho se acentuou semana passada quando a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) decidiu não cortar a produção para dar uma aliviada nessa queda. Depois que essa notícia saiu, moedas de países que dependem muito das exportações de petróleo chegaram no fundo do poço. Rússia, Venezuela e Nigéria estão literalmente com o cu na mão.

Os especialistas acusam a Arábia Saudita por uma prática de dumping: os árabes estão bombeando petróleo à torto e à direito e cobrando preços muito baratos para falir a concorrência.

É a lei da oferta e da procura: com muito petróleo dando mole no mundo e um mercado consumidor fraco e com baixas perspectivas de crescimento, o preço acaba caindo... E MUITO!

Por que os árabes decidiram produzir mais do que o normal?

Porque os Estados Unidos descobriram enormes reservas de petróleo e gás (shale oil) no fim da década de 2000. Olha esse gráfico aí embaixo!

Desde os anos 1980, a produção de petróleo vinha caindo gradativamente. Preste atenção no que aconteceu de 2008 para 2009! Sim, com a descoberta do shale gas ali pelo Texas, os Estados Unidos viraram um concorrente direto do pessoal do Oriente Médio na hora de bombear petróleo.

Agora se liga nesse gráfico! Break-even é o termo que americanos usam para “ZERO-A-ZERO”. Para certo país cobrir seus custos de exploração e produção, o preço do petróleo nos mercados mundiais tem que estar a um certo patamar. Se estiver abaixo disso, não vale nem a pena bombear petróleo porque, no fim do dia, você estará “pagando para trabalhar”.

Não faz sentido construir navio, plataforma, árvore de natal, bancar pesquisa geológica, pagar engenheiros, fazer dutos se teu custo vai ser maior do que tua renda, né?!

Hoje, o WTI já está operando abaixo de US$70. A esse preço, só Qatar e Emirados Árabes Unidos ficam fora do vermelho.

O problema é que o preço do barril de petróleo está tão barato que não vale a pena levar certos projetos para frente. Dentre os países com uma base de custos muito mais alta que a da Arábia estão a Rússia, os EUA, o Irã, a Argélia e o próprio Brasil.

Na Rússia, a cada 10 dólares que o petróleo cai, a Rússia perde US$32 BILHÕES (que é mais ou menos 1.6% do PIB!!!). Como é que eles vão financiar os gastos do governo sem a grana do petróleo?

E o pré-sal?

Outro bom exemplo disso é o pré-sal brasileiro! O pré-sal é um projeto com custos muito altos e foi projetado pensando com o preço do Brent acima dos US$100. Abaixo disso, o valor presente líquido (NPV) fica negativo e o projeto, inviável.

Irmão, adivinha quem vai pagar a conta dos investimentos caríssimos para furar a bacia de Campos e encontrar petróleo ruim 10km de profundidade? Infelizmente, com o petróleo a US$66 não vai ser o consumidor!

É exatamente o que os árabes querem: falir geral! O objetivo dos caras é diminuir ao máximo o número de competidores. Se o petróleo continuar caindo, vamos ver várias empresas gigantescas decretando falência, começando pela nossa querida Petrobrás!

Mas, cara …. dá para ganhar dinheiro com isso?

A baixa do preço do petróleo é boa para alguns setores da economia. O Citibank fez essa análise dos setores da economia que mais se beneficiam quando o ouro negro está a preço de banana. São eles: alimentos, consumo e farmacêuticos.

Do outro lado da moeda, quem se ferra são os próprios produtores de petróleo (tipo Exxon, StatOil, BP, Total, Petrobrás), as empresas fazem máquinas pesadas (capital goods), as empresas de construção e as empresas que mexem com metais, principalmente as siderúrgicas!

Eu mesmo estou comprado em companhias aéreas já há algum tempo e tá dando muito certo. Lembrando que 40% da estrutura de custos de uma aérea é diretamente ligado ao preço do WTI. Quando o custo cai abrutamente assim, os lucros tendem a subir né?! Tenho call options em CPA (Copa Airlines), SAVE (Spirit Airlines) e GOL (Gol Linhas Aéreas) e estou muito feliz com elas.

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