Em 2010, escrevi minha tese de formatura sobre as Olimpíadas do Rio.
Vou até abrir o parêntese para dizer que lá nos Estados Unidos não tem essa frescura do estudante escrever monografia para se formar.
Pra mim é uma mega perda de tempo.
O muleque gasta 6 meses da vida se estressando para escrever um negócio que nem o próprio professor dele vai ler direito.
Na grande maioria das universidades americanas, o cara aprova todos os créditos e ponto final: diploma na mão.
Só que eu era parte de uma programa acadêmico chamado Huntsman Program in International Studies and Business.
Dos quase 10 mil estudantes de graduação de UPenn, só os 40 Huntsmans tinham que apresentar uma espécie de TCC.
Dois requisitos: tem que conectar o dinheiro com as relações internacionais e tem que escolher um professor pica para tocar a pesquisa contigo.
Vivíamos o auge do milagre econômico brasileiro e o todos comemorávamos a vitória do Rio sobre Chicago para sediar as Olimpíadas de 2016.
Pensei: sou peixe da maior autoridade do sports business americano Kenneth Shropshire e sou carioca.
Boom! Vou escrever sobre as Olimpíadas do Rio.
O Shrop tinha sido uma das mentes pensantes por trás das Olimpíadas de Los Angeles 1984 e ele adorava conversar sobre a experiência dele por lá.
Olimpíadas? No Brasil? Pra quê?
Vou te mandar a real: eu estava com o pé atrás desde o início.
E olha que eu me amarrava no Lula, hein?
(que atire a primeira pedra o liberal que não teve seu desvio esquerdista quando era muleque)
Conheci várias cidades olímpicas ao redor do mundo e vi que o tal do legado olímpico era apenas uma ferramenta para deixar o povão feliz.
E feliz por tempo limitado.
Gosta dessas paradas? Recomendo que leia o livro SOCCERNOMICS de Simon Kuper (comprar no Amazon). Tem um capítulo só sobre legado de eventos esportivos.
No dia da minha formatura, a diretora da Wharton Business School começou a falar sobre as minhas peripécias e aventuras durante os quatro que passei na Universidade da Pennsylvania.
No minuto 3:48, ela conta sobre a minha tese de formatura: “Por que o Brasil não deve sediar as Olimpíadas?”
As centenas de pessoas presentes na sala riram do título.
O Brasil era o país da moda durante os 4 anos que eu passei na UPenn.
Muitos dos pais dos meus colegas de Wharton trabalhavam em Wall Street e haviam ganhado muito dinheiro investindo em empresas brasileiras na época do boom de commodities.
Sabe aquela grana que Papai Noel te deu de Natal? Aquele 13o salário?
Ao invés de sair comprando besteira no shopping, por que não investir em você mesmo?
Aproveita que hoje o Udemy está com aquela promoção de $15 dólares por curso online e brilha muito!
Pega o gráfico das ações de Petrobrás e Vale entre 2007 e 2010 e imagine-se surfando aquela onda e reinvestindo os dividendos.
De todos economistas que eu seguia, só o Ruchir Sharma do banco Morgan Stanley era pessimista com relação ao Brasil.
Sharma escreveu outro megalivro que eu altamente recomendo: Breakout Nations : In Pursuit of The Next Economic Miracles (comprar no Amazon).
Toquei o terror e comecei a escrever a tese.
Um dos meus argumentos naquele documento de 40 páginas era o excesso de poder das empreiteiras brasileiras.
Para botar o pau na mesa assim, eu precisava de embasar meu argumento com evidências.
Fui buscar essas evidências no país onde morei durante quase 20% da minha carreira universitária.
VIVA ESPANHA
Me amarro na Espanha, cara.
Passei um dos melhores anos da minha vida por lá.
Apesar de parecer extrovertido de longe, sou um cara fechado e de poucos amigos.
Meus amigos mais chegados até hoje continuam sendo a galera que fechou comigo durante meu intercâmbio em Barcelona.
E olha que eu vejo eles, em média, 1 vez por ano.
Pega meu travel book Turismo Ousadia: Como Conquistar o Mundo Ainda Jovem e você vai ver que grande parte das crônicas aconteceram por lá.
A primeira vez que morei na Espanha foi no verão de 2008 com 18 anos.
A segunda vez foi no ano de 2010 com 20.
Irmão, é impressionante a diferença da condição do país entre um ano e outro.
Papo de não acreditar que estava no mesmo lugar!
Prato cheio para um monte de análise macroeconômica do antes e do depois.
Falei um pouco disso naquele que foi um dos posts mais lidos da história desse humilde site: Como a Espanha Produziu Sua Bolha Imobiliária.
Se você manja do espanhol, recomendo 100% esse vídeo do Aleix Saló explicando o que aconteceu com a Espanha depois que a crise subprime estourou nos Estados Unidos no ano de 2009.
O PATINHO FEIO
Quando eu trabalhava no Citi em Nova York, cobria ações de transporte e infraestrutura listadas na América Latina e Estados Unidos.
Volta e meia, os clientes de fundos de investimento pediam tabelas de comps para comparar preços e múltiplos de empresas parecidas ao redor do mundo.
Eles usavam essas tabelas para ajudar no processo de tomada de decisões: será que eu invisto nesse conglomerado italiano que está operando a 10x o lucro ou será que eu pago 15x o lucro nas rodovias da CCR brasileira?
Com isso, tinha que entrar em contato com os meus colegas que cobriam Europa e Ásia para pegar informações sobre as empresas de lá.
Aí vem a parte curiosa.
Qual é a capital financeira da Europa?
Os grandes bancos de investimento do mundo mantém equipes de equity research (análise) nos arranha-céus de bairros londrinos como Canary Wharf e The City.
Cada banco contrata um time de especialistas para estudar um setor da economia da Zona do Euro e fazer recomendações de investimento para os clientes institucionais.
Tinha gente cobrindo petróleo, outros cobrindo telecomunicações, outros focavam em mineração, outros em empresas de consumo e por aí vai.
Dos mais de 50 analistas que o Citi tinha na sua subsidiária da Europa Ocidental, apenas UM não estava baseado em Londres.
Era exatamente o cara que cobria as ações de construção e infraestrutura.
Ele trabalhava sozinho em Madrid…
QUE BOM SERIA SE SÃO PAULO FOSSE DO LADO DE MADRID…
Salve Fernando e Sorocaba!
Sou preto, moro no Rio, cresci escutando funk mas me amarro em música sertaneja.
Na minha humilde opinião, essa aí em cima é uma das melhores músicas de amor já escritas no Brasil.
Não entendeu o trocadilho do título? Dá uma escutada aqui na música Madrid da dupla Fernando e Sorocaba.
Perdi o foco, né?
Bom, a verdade é que eu fiquei bem cabreiro quando soube que o Citi tinha um analista “do-contra” baseado em Madrid.
Pô, a Espanha passava por um momento de crise das mais brabas.
Desemprego nas alturas, economia totalmente quebrada, jovens sem perspectiva e governo socialista mais perdido do que cego em tiroteio.
Por que Madrid?
Porque era lá que estavam as maiores e mais lucrativas empreiteiras da Europa: FCC, Abertis, OHL, Sacyr, ACS, Ferrovial…
Construção civil? Infraestrutura de transportes? Obras grandes?
Quem manda nesse mercado aí são os espanhóis!
Tá vendo o #1 do ranking ali?
Você conhece muito bem a ACS Group, cara.
O “caixa 2” dessa empresa chama-se Real Madrid Futbol Club.
O presidente das duas instituições é um empreiteiro bilionário e bem-conectado chamado Florentino Perez.
Dizem que é através da empreiteira ACS que eles arrumam dinheiro para pagar 100 milhões de euros num Gareth Bale da vida e montar esses times de galáticos… mas isso é assunto pra outro post.
O PAÍS DO ELEFANTE BRANCO
Dá um rolé de carro pela Espanha e você vai passar pelas melhores estradas da sua vida.
Me arrisco a dizer que são melhores até que aquelas autobahns alemãs.
Aeroportos? Moderníssimos também! Madrid-Barajas e Barcelona-El Prat dão de 7 a 1 em qualquer aeroporto hub dos Estados Unidos.
Trens? A Espanha tem ferrovia pra tudo quanto é lugar e ainda conta com a segunda maior rede de trens de alta velocidade do mundo (perdendo só pra China).
Só que é o seguinte: as empreiteiras têm altíssima influência na política da Espanha (sim, tem lobbying corrupção lá também).
O que elas fazem?
Usam o big-stick para aprovar uma porção de projeto fantasma.
Com que grana? Com a grana do pobre que paga imposto.
Vou te dar um exemplo bem cabuloso.
Esses dias vi uma reportagem sobre o aeroporto de Ciudad Real, uma obra faraônica que custou 10 bilhões de euros para os cofres públicos.
O governo contratou uma dessas poderosíssimas empreiteiras e construiu um mega-aeroporto com capacidade para 10milhões de passageiros por ano.
Que presentão para o povo sofrido de Ciudad Real, hein?
Só que o lugar tem apenas 75mil habitantes.
Para você ter uma idéia, a favela aqui do Complexo do Alemão tem 70 mil habitantes.
Como é que você vai convencer uma empresa aérea a voar para um aeroporto no meio do nada?
Caralho! O desemprego em Ciudad Real batia quase 30% na época. Como é que nego vai gastar dinheiro com passagem aérea?
O primeiro vôo aconteceu em junho de 2010.
E o último vôo em outubro de 2010.
O aeroporto, novinho que só ele, encontra-se completamente abandonado (veja com seus próprios olhos).
Ciudad Real foi só um exemplo.
Depois dá uma olhada no portfolio de aeroportos da AENA, versão espanhola da INFRAERO.
Um mais novo que o outro… um mais deficitário que o outro.
O governo espanhol resolveu privatizar a empresa e lançar o IPO na bolsa de Madrid para curar alguns rombos financeiros.
Menos mal.
Mas o que tem de elefante branco na Espanha não é brincadeira não.
Já viu a Ciudad de las Artes y las Ciencias de Valência?
Prédio bonito, né?
E se eu te falar que ninguém visita aquela porra, que as salas de exibição estão vazias há anos e que o governo local não tem grana para fazer manutenção?
JÁ VI ESSE FILME…
Esses dias eu abri o Business Insider e vi uma manchete sobre um tal de Projeto Castor.
Projeto Castor é um campo de petróleo abandonado na costa leste da Espanha que eles estão tentando transformar em rig de gás natural.
Só que os riscos são muito altos e projeto não tem viabilidade econômica nenhuma… especialmente agora que o petróleo e o gás natural estão batendo mínimas históricas.
Adivinha quem tocou o projeto e construiu as mega-plataformas offshore e infraestrutura onshore?
Actividades de Construcción e Servicios SA… ele mesmo, o mesmo ACS Group do Real Madrid!
O ACS Group tem rabo preso com o Partido Popular do atual presidente Mariano Rajoy, uma espécie de PT mas de direita.
PT de direita?
Bom, o PP espanhol é o partido conservador mas também segue aquela corrente de escolher empresas campeãs nacionais em troca de certos “benefícios” com qualidade Friboi.
Nesse caso aí, a ACS usou nada menos que 500 milhões de euros em financiamento público para tocar essa versão espanhola do pré-sal.
Só que a exploração nesse pré-sal espanhol aí começou a produzir vários terremotos.
As prefeituras das cidades litorâneas da Catalunha e do País Valenciano sentiram na pele, botaram pressão no Castor e o governo suspendeu o projeto.
Só que tinha uma linha no contrato que ditava que a ACS receberia todo investimento de volta caso o governo suspendesse o projeto e “nacionalizasse” aquela concessão.
Resultado: 1.35 bilhões de euros de volta para as contas da empreiteira.
Só que não dá para pagar tudo de uma vez, certo? Ainda mais em ano de eleição lá na Espanha.
E se eu te disser que o cidadão espanhol vai pagar essa pica como uma linha extra na conta mensal de gás até o ano de 2046?
E a gente aqui reclamando do Estádio Mané Garrincha…
CIDADE OLÍMPICA
A Espanha está se recuperando da crise mas continua com um dos piores índices de desemprego e produtividade da zona do Euro.
Só que toda vez que abre concorrência para sediar jogos olímpicos, lá estão eles!
Sevilha perdeu os jogos de 2004 e 2008.
Daí o foco mudou para Madrid.
Madrid perdeu 2012 para Londres.
Perdeu 2016 pro Rio.
E perdeu 2020 pra Tóquio.
E a Espanha continua cutucando os jogos de inverno também: a cidade aragonesa de Jaca nos Pirineus entubou as candidaturas para os jogos de 2002, 2010 e 2014.
Barcelona também mexeu os pauzinhos para sediar os jogos de 2022… mas não deu em nada também.
Olimpíada é um prato cheio para empreiteira, cara.
E se a Espanha é a capital mundial das empreiteiras, eles vão continuar martelando um bid desses!
E o risco de produzir estádio que vai virar elefante branco?
Pues no hay problema, amigo!
Não manjo muito de contabilidade gerencial de construção civil.
Mas me disseram que a maneira mais fácil de se lavar dinheiro é através de obra grande…
Entendeu aonde eu quero chegar né?
Chegou o ano que todos nós estávamos esperando ansiosamente!
Os amiguinhos aqui embaixo te desejam um feliz 2016!
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