O curso que fiz antes de trabalhar em Wall Street

Três meses antes de me formar na faculdade, assinei um contrato de 2 anos para ser analista do Citigroup Global Markets em Nova York.

Meu próximo livro Wall Street vai focar exatamente nessa minha transição de jogador de futebol americano para analista de bolsa de valores. Lembra daquela minha matéria no Esporte Espetacular há uns 5 anos atrás?

Me inspirei nos livros do Michael Lewis para escrever uma espécie de “memoir” contando todas as vitórias e derrotas dos meus 2 anos trabalhando em Wall Street: as transações multimilionárias, as viagens de negócios para a Europa, as bebedeiras e surubas estilo Lobo-de-Wall Street, o efeito Eike Batista, os conflitos de interesse e o início da crise atual do Brasil.

O foco maior do livro é na parte mais humana do negócio: aquelas inseguranças e frustrações típicas de qualquer muleque de 21 anos que não sabe o que vai fazer da vida.

A diferença é que eu recebia mais de 100mil dólares por ano para trabalhar lá… e passei a maior parte desse tempo deprimido.

Antes que você pergunte, ainda estou negociando “advances” com editoras.

Estou muito confiante que o Wall Street vai ser um sucesso de vendas até maior do que meu primeiro best-seller Hackeando Tudo: 90 Hábitos Para Mudar o Rumo de Uma Geração e tenho fé que a editora que fechar comigo vai ficar muito bem financeiramente no longo prazo.

Por isso, não estou com muita pressa para lançá-lo.

Enquanto não aparecer uma editora disposta a abrir a carteira pelos direitos exclusivos, o livro Wall Street vai ficar preso aqui no meu HD.

O PROGRAMA DE ANALISTA EM WALL STREET

Todo ano, os grandes bancos de Nova York recrutam entre 100 e 200 jovens das melhores universidades dos Estados Unidos para os chamados analyst programs.

O analista recém formado ganha um salário-base de 70mil dólares por ano + bônus e se compromete a passar 2 anos da vida dele trabalhando dia e noite ali naquele banco.

Só que tem uma parte bem curiosa.

Pega o ranking das melhores universidades dos Estados Unidos e você verá nomes como Harvard, Princeton e Yale lá no topo.

O problema é que nenhuma delas oferece graduações em administração, contabilidade e finanças – as três principais skills que o analista usa dentro de um banco de investimento.

Naquela classe de 2011 do Citi, conheci muita gente que havia se formado em filosofia, comunicação, história, ciências políticas e por aí vai.

Mas então… por que os caras não dão prioridade ao pessoal que estudou business na graduação de faculdades “menos famosas”? Por que contratar um cara que estudou filosofia para trabalhar na bolsa de valores?

Resposta? Elite intelectual.

O cara pode não saber o que é um discounted cash flow e um EBITDA… mas se ele conseguiu convencer a banca examinadora de uma Ivy League a admiti-lo quando ele tinha 17 anos, ele tem algo especial.

Lembra daquele post Por que Wall Street está cheia de ex-jogadores de futebol americano?

Nesse cálculo, entra também aquele conceito que eu sempre martelo aqui no blog: você é a média das 5 pessoas com as quais você mais passa tempo.

A idéia é a seguinte: ele conseguiu sobreviver 4 anos de um currículo muito pesado e conviveu com os jovens mais brilhantes do mundo inteiro.

Ele já provou que é bom… só precisa de um empurrãozinho a mais para aprender as ferramentas que a gente usa aqui dentro do banco.

Mas como eles remediam o gap de conhecimento técnico e dão esse empurrãozinho?

Simples, ele contratam uma empresa chamada Training the Street.

TRAINING THE STREET

Como o nome já diz, a Training the Street é uma empresa que treina Wall Street.

Para os grandes bancos de investimento como Goldman Sachs, JP Morgan e Citigroup, não vale muito a pena manter um staff interno para dar treinamento aos novos analistas.

O que eles fazem? Terceirizam esse serviço.

Entre os meses de julho e agosto de 2011, eles botaram a gente num auditório e nos colocaram para fazer cursos mega intensivos e pesados em temas como:

– Contabilidade Financeira

– Excel Avançado

– PowerPoint avançado (como decorar apresentações de PowerPoint nos standards do banco para levar seu cliente a fechar negócios multimilionários contigo)

– Modelagem Financeira

– Fusões e Aquisições (M&A)

– Leveraged Buyouts

De 8 da manhã às 18 da tarde, aprendíamos tudo o que um jovem analista precisava saber para mandar bem no mercado financeiro e ajudar o banco a ganhar milhões e milhões de dólares em deals, trades e comissões.

O legal é que a gente já recebia o salário em full, mesmo antes de “começar a trabalhar”.

Os professores do Training the Street davam de lavada em todos os meus professores da Wharton Business School por um simples motivo: eles passaram por tudo aquilo ali.

Eles eram cascudos de mercado e sabiam exatamente o que a mulecada precisaria para se dar bem lá dentro do banco.

Como eu sempre falei aqui no blog, prática > teoria!

Ao invés de repassarem um livro inteiro como os professores universitários, eles praticavam o Princípio de Pareto e focavam o ensino apenas naqueles 20% dos conceitos que realmente usaríamos no mercado.

Para deixar a parada mais braba ainda, tinha dever de casa e prova todo dia.

Vou mandar a real: dos 2 anos que eu passei no banco, aquelas primeiras semanas com o Training the Street foram as mais intensas.

Isso porque eu tinha dia que eu ia embora para casa às 3 da manhã e tinha que estar de volta no auditório às 8 para fazer o quiz diário.

A gente era obrigado a mandar bem já que nossos futuros chefes recebiam as notas de todos os nossos quizzes e deveres de casa.

Para a galera do Investment Banking, o buraco era mais embaixo.

A nota daquelas avaliações dos Training the Street é que determinaria se ele entraria em um time top ou um time fraco.

Time top é aquele que tem vários deals, que traz dinheiro para o banco e onde os analistas ganham bônus de mais de 100 mil dólares no fim do ano (em cima do salário de $70mil).

Time fraco é aquele que não produz resultado para o banco e não tem bônus. Já deu para entender a motivação daquela galera né?

CONHECIMENTO DEMOCRATIZADO

Sou muito fã da plataforma de cursos online Udemy e acho que esse é o futuro da educação.

Há um tempo atrás, notei que o Training the Street disponibilizou todo o portfolio de cursos deles online lá na plataforma.

E são os mesmos cursos que eles ministram dentro dos grandes bancos de Wall Street.

Só que os cursos custam em torno de 300 dólares.

Tudo bem que grana em conhecimento é considerada investimento e não gasto.

Mas 300 dólares é salgado para qualquer um, ainda mais quando o câmbio bate a faixa dos R$4.

Vou confessar que abri a carteira paguei essa quantia há uns 2 anos atrás no curso FINANCIAL MODELING: HOW TO BUILD A COMPLETE MODEL ON EXCEL.

Só que o dólar tava mais perto de R$2.

Estava meio enferrujado em modelagem e em contabilidade então resolvi fazer esse investimento para me preparar para entrevistas em fundos de investimento lá dos EUA e de Londres.

A verdade é que muitas empresas te colocam para fazer um teste de modelagem de Excel bem antes de te entrevistar.

Essa é a primeira peneira.

Se o cara não sabe construir BALANCE SHEET, INCOME STATEMENT E CASH FLOW de uma empresa, ele realmente não serve para trabalhar com finanças.

Acabou que eu não passei nas entrevistas por outros motivos mas o conhecimento ficou.

E, como o acesso ao curso é vitalício… se eu esquecer alguma coisa, é só logar na minha conta do Udemy e reaprender tudo de novo.

QUERO TRABALHAR NO MERCADO FINANCEIRO

Quem está na minha lista de emails e me segue no Facebook já me viu compartilhando vários links de descontos de cursos online do Udemy.

Só que dos 17 mil cursos que entravam naquelas promoções do ano passado, nenhum curso do Training the Street estava no meio.

Ia todo galudão para comprar algum e brochava quando via o tag de $400 dólares.

Hoje eu recebi um email do Udemy avisando de uma promoção de ano novo com cursos online a começando em 10$.

E adivinha? Não sei se foi erro do sistema mas TODOS os cursos do Training the Street estão disponíveis a 10$.

Fazendo as contas, é um desconto boçal de 97.5% hahaha.

Eu sei lá quando essa promoção termina mas tá valendo muito a pena.

(Disclaimer: 2 horas depois que o post foi ao ar, o Udemy parece que reconheceu o bug e tirou os cursos do Training the Street da promoção dos 10$.

Ao invés de deletar o post inteiro que escrevi com tanto carinho, vou deixar esse aviso e meu pedido de desculpas)