Como perder US$830 milhões em uma manhã?

Um dos ditados que eu mais ouvi da minha querida mãe na infância foi “quem tá na chuva é para se molhar”. Eu fazia muita merda e não aceitava as conseqüências então ela sempre mandava essa.

Esses dias eu perdi R$10mil reais em apenas uma operação de derivativos e fiquei quase uma semana fora de órbita, me lamentando. Para um cara de 24 anos que ainda está meio perdido no que vai fazer da vida, 10mil reais é coisa pra caramba!

Todo investidor que se preze tem que saber lidar com a euforia dos ganhos e a melancolia das perdas, saber que o negócio é feito de vitórias e derrotas e que o cara bom é o que minimiza as perdas. Confesso que é muito mais fácil falar do que botar isso em prática.

Ontem mesmo, li que um fundo chamado Everest Capital Global Fund, com base em Miami, perdeu todos os seus US$830 milhões em ativos na manhã de quinta feira e me senti um pouco melhor! Melhor perder 10mil do que 2bilhões depois.

E como a vasta maioria dos fundos de investimentos mundo afora, essa grana aí não pertencia a meia dúzia de ricaços de Wall Street. Era o dinheiro da aposentadoria e do FGTS de milhares de trabalhadores que ficaram sem nada graças a UMA ÚNICA NOTÍCIA.

A União Europeia está passando por uma crise meio braba com a desaceleração das principais economias, taxas de juros negativas, deflação, desemprego alto e o risco de saída da Grécia da zona do euro (a chamada Grexit).

Taxas de juros negativas é um negócio que eu não consigo entender até hoje. Você paga ao banco para guardar seu dinheiro! Deixa a grana na poupança e ela só diminui! Mas deixa isso pra depois… hoje o foco é escrever sobre moeda! Outro dia eu escrevo sobre esses juros negativos na Europa.

Por causa desse cenario desfavorável que eu descrevi ali em cima, o euro, que por muito tempo fora considerado uma moeda forte e estável, não para de se desvalorizar contra moedas “melhores” e “mais seguras” como a libra esterlina, o dólar americano e o franco suíço.

Para manter a competividade de suas exportações e ajudar o setor turístico, o banco central da Suíça fazia de tudo para manter o câmbio euro-franco estável. O foco era não deixar o câmbio passar de 1,20 para não machucar a indústria local e para manter a suíça como um destino atrativo para as férias do pessoal dos países vizinhos (que recebem em euros).

Mas a lei da oferta e da procura é a lei mais poderosa da natureza! Governo nenhum consegue manipulá-la por muito tempo.

O banco central da Suíça decidiu acabar com o teto do câmbio entre o franco suíço e o euro. Com o anúncio da ação, o mercado inteiro entrou em pânico e foi comprar francos suíços.

Resultado: o euro se desvalorizou 28% em um dia!

Cara, no mercado de câmbio 28% é coisa pra CARALHO! MUITO! Coisa que acontece uma vez em cada 200 anos sei lá, especialmente entre duas moedas consideradas fortes. Se fosse entre dólar e peso venezuelano, eu até iria entender mas franco suíço vs euro?!?!

Todo mundo que havia investido em euros, perdeu muito mas muito dinheiro.

Cada vez que eu abro o site dos principais jornais de finanças mundo afora é um fundo diferente indo a falência por causa dessa desvalorização repentina do euro.

Esses fundos deviam estar ultra-alavancados em euro. Quando você está alavancado, uma queda de 5% pode significar uma perda de 100%, te levar a falência e acabar com o dinheiro de todo mundo que investiu no seu fundo.

Tudo bem que era muito difícil prever que, do dia para a noite, o banco suíço ia tomar uma decisão tão radical. Mas os caras que administravam esses fundos cagaram no pau ao não examinarem os altíssimos riscos das posições internas.

A lição é a seguinte: esqueça os especialistas, administre a tua própria grana e fique ligado em tudo o que está acontecendo no mundo (sugiro ler o Business Insider diariamente para isso).

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