Esse é o segundo artigo para introduzir meu novo livro Classe Econômica: Europa Comunista.
O Classe Econômica foi lançado dia 8 de dezembro de maneira exclusiva pelo Ubook. Sim, é a primeira vez na história do mercado literário brasileiro que um livro é lançado primeiro em versão audiolivro.
Se você é daqueles que lêem pouco e quer dar uma chance para os audiobooks, entra em try.ubook.com/europacomunista que os leitores desse humilde blog levam 75% de desconto na plataforma para escutar mais de 10mil audiolivros, revistas e podcasts em português, inglês e espanhol.
Semana passada, escrevi o Depois do Comunismo: Por Que Eu Escrevi o Livro Classe Econômica relacionando o fim do comunismo no leste europeu com as guerras étnicas dos Bálcãs nos anos 1990.
Se você não estiver a fim de clicar no outro artigo, segue o resumão:
A vida na Iugoslávia comunista até os anos 1980 era bem tranquila e todo mundo era rico.
Não acreditou?
Chama o Petkovic do Mengão que ele te explica como era a infância dele sob regime comunista (só tem 40 segundos o vídeo)!
Daí o ditador Tito morreu, a União Soviética caiu, as repúblicas da Iugoslávia começaram a declarar independência e o povo de lá começou a se matar: croatas matavam sérvios que matavam bósnios, kosovares e albaneses.
TURISMO DE INVESTIDOR
Me inspirei em três grandes escritores para escrever a série Classe Econômica: Jim Rogers, Ruchir Sharma e Michael Lewis.
Os três caras viajam o mundo e escrevem sobre investimentos e macroeconomia de uma forma muito divertida e simples de entender.
Ao invés de escrever sobre restaurantes, baladas e pontos turísticos, eles focam em PIB, inflação, investimentos diretos, mercado de trabalho e poder de compra dos habitantes de cada país maluco que eles visitam.
Segue uma rápida lista de livros nesse tema viagem-macro-investimentos:
Investment Biker – Jim Rogers
Adventure Capitalist – Jim Rogers
Breakout Nations -Ruchir Sharma
The Rise and Fall of Nations – Ruchir Sharma
Boomerang: Travels in the New Third World – Michael Lewis
(Sim, só tem em inglês… já cansei de dizer: não sabe inglês, vai ficar pra trás!)
Sempre achei o trabalho deles muito top e adaptei a minha vida para fazer algo parecido. Vamo ver se essa série Classe Econômica dá certo, né?
Além do Europa Comunista, já fechei a parte 2 sobre o Sudeste Asiático e a parte 3 sobre os Micropaíses da Europa como Andorra, Liechtenstein, Vaticano e San Marino.
Apesar de serem multimilionários e terem visitado mais de 100 países cada um, EU DUVIDO QUE ELES JÁ VISITARAM O KOSOVO.
Isso porque o Kosovo só foi se tornar um país independente no ano de 2008, o que o qualifica como o segundo país mais jovem do mundo (só perde para o Sudão do Sul, que nasceu em 2011).
A real é que, dependendo de onde você perguntar, o Kosovo não é um país de verdade… é apenas a região sul da Sérvia.
RECÉM NASCIDO
Um tema muito comum entre praticamente todos os capítulos do livro Classe Econômica: Europa Comunista é o seguinte: todo mundo odeia os sérvios!
No dia seguinte da entrega desse humilde livro para o Ubook, eis que abro o computador e dou de cara com a seguinte manchete:
Terra: FIFA multa Croácia por músicas racistas da torcida em jogo das eliminatórias
O jogo foi entre Kosovo e Croácia.
Já que o Kosovo não tem estádio padrão-FIFA, a federação local resolveu realizar o jogo no país vizinho, a Albânia.
O engraçado é que as três torcidas cantaram juntas uma música com o refrão “Morte aos sérvios”.
Pelo menos na arquibancada, a rivalidade não era entre Kosovo e Croácia. Era todo mundo contra os sérvios.
Tem que rebobinar a fita para 25 anos atrás para entender um pouquinho dessa raiva.
Em 1991, os croatas declararam independência da Iugoslávia. Resultado? Lá foram os sérvios meter bala neles.
Em 1993, os bósnios declararam independência da Iugoslávia. Resultado? Lá foram os sérvios meter bala neles.
Em 1998, foi a vez de fazer bullying com o Kosovo.
Agora acho que vale a pena explicar um pouco da diferença entre a atual Sérvia e o Kosovo.
De um lado, Jesus Cristo. Do outro, o profeta Maomé.
De um lado, o alfabeto russo-cirílico. Do outro, o alfabeto “normal”.
De um lado, o sangue eslavo loiro de olhos azuis. Do outro, o sangue albanês-quase-turco.
De um lado, controle. Do outro, servidão.
Por causa dessas diferenças, o povo do Kosovo era muito marginalizado dentro do país e volta e meia se revoltava contra os políticos sérvios.
Como os sérvios reagiam as revoltas? Na base da violência.
Naquela altura do campeonato, as guerras da Bósnia e da Croácia já haviam acabado e levado a vida de dezenas de milhares de civis católicos, muçulmanos e ortodoxos.
Para evitar mais sangue e desgraça na Península, Bill Clinton e seus comparsas da OTAN resolveram meter a colher.
Como assim, Raiam?
Eles simplesmente programaram vários bombardeios aéreos em partes estratégicas da atual Sérvia: usinas elétricas, pontes, quartéis, prédios do governo, estações de rádio e TV e estações de tratamento de água.
A mensagem era mais ou menos assim:
“Chega de fazer bullying com os grupos étnicos daí. Quer bater em alguém? Bate na gente, seu filho da puta!”
Até hoje a Sérvia não se recuperou do Bill Clinton.
Você pega o trem da Hungria para a capital Belgrado e só vê ruínas nos últimos 10 minutos da viagem. Tudo vestígio dos bombardeios da OTAN de 1998.
Por que não reconstruíram ou pelo menos limparam os escombros de mísseis e bombas de 20 anos atrás?
Já contei isso no primeiro artigo Depois do Comunismo: Por Que Eu Escrevi o Classe Econômica: O PAÍS ESTÁ FUDIDO E O GOVERNO NÃO TEM MAIS DINHEIRO PRA PORRA NENHUMA!
E o Kosovo, como ficou?
Segue uma foto que eu tirei na principal avenida da capital Pristina. Se liga na homenagem:
Sim, o Dom Pedro I do Kosovo chama-se Bill Clinton!
O LADO BOM DE SER REFUGIADO
Por causa desse conflito entre a Sérvia e o Kosovo no fim dos anos 1990, muita gente abandonou o país como refugiado.
Uma prova disso é que quase não há velhos nas ruas de Pristina.
Papo reto: eu tenho 26 anos e me senti um tiozão andando por lá.
As pessoas que meteram o pé como refugiados no fim dos anos 1990 conseguiram vistos para trabalhar legalmente em países ricos como a Austrália, Alemanha, Estados Unidos e Suíça.
Pega a escalação da seleção suíça na Copa 2014.
Tá vendo esses jogadores com nome nã0-alemão aí? Pode ter certeza que a grande maioria deles é de origem kosovo-albanesa e que suas famílias fugiram dos Bálcãs na época da guerra.
O maior exemplo deles? A grande estrela do time: Xherdan Shaqiri, ex-Bayern de Munich.
Lembra que eu falei que o povo do Kosovo é de maioria muçulmana?
Fiz uma graduação meio inútil chamada “Relações Internacionais”. Uma das poucas coisas que aprendi na faculdade e levei para a vida foram os 5 pilares da religião islâmica.
Vou enumerar os cinco mas só vou focar no #3 para montar meu argumento, já é?
1- Aceitar que Alá é seu Deus e seu único Deus
2- Rezar virado para Mecca 5 vezes ao dia
3- Doar a pessoas necessitadas (zakat)
4- Fazer jejum durante o Ramadã
5- Viajar a Mecca pelo menos uma vez na vida
Esse pilar do zakat é meio aberto a interpretações.
O que é uma pessoa necessitada? Simplesmente uma pessoa que tem menos que você.
ECONOMIA DE WESTERN UNION
Uma característica marcante das ruas do centro da capital do Kosovo é a quantidade de lojinhas com essa placa aí: WESTERN UNION.
É igual Starbucks em Nova York. Para todo canto que você olha, tem pelo menos umas 5 dessas aí. Se não é da Western Union é do seu rival Moneygram.
Agora chegou a hora de amarrar todos os tópicos que eu apresentei até agora nesse pequeno resumo sobre o Kosovo: sérvios assassinos, guerra étnica, religião muçulmana, refugiados na Suíça e o zakat.
Saiu muita gente do país na época da guerra.
Essa galera tá ganhando dinheiro. Mesmo trabalhando de pedreiro ou limpando latrina na Europa desenvolvida, vamos colocar aí que cada um ganha 2 mil euros por mês.
Achou muito? Lembra daquele meu post sobre o custo de vida na Suíça?
Ok! Pega esses 2 mil euros por mês e coloca uns 10% de dízimo. Ao invés de doar para a igreja que nem os evangélicos, os muçulmanos doam para os necessitados.
Na cabeça de um refugiado kosovar que imigrou para a Alemanha e se deu bem na vida, as pessoas que ficaram no Kosovo são consideradas “pessoas necessitadas”.
Agora é que são elas: vamos dizer que eles usam o Western Union para mandar 200 euros todo mês para seus familiares em Pristina.
Mano, 200 euros é dinheiro pra caralho no Kosovo!
Lembra que eu falei que a Tailândia (Negão Asiático: Tailândia) e o Vietnã (Negão Asiático: Vietnã) eram muito baratos?
Papo reto: o Kosovo bate os dois!
Toma um exemplo aí. Fui almoçar com meu estagiário Otávio no restaurante mais chique do centro da capital Pristina.
Se não dá para ver a foto daí, vou traduzir:
Água mineral + Salada Caprese + Spaghetti a Bolognesa e Penne à Carbonara = 12 euros (42 reais).
Acho que nem se eu for almoçar no restaurante mais top do Acre eu vou gastar tão pouco dinheiro assim para duas pessoas.
Tudo bem, Raiam. Já provou que as coisas são baratas. Mas e aí?
E aí que ninguém trabalha naquela porra!
É impressionante como as pessoas ficam nas varandas dos bares tomando café e fumando um maço de cigarro atrás do outro.
O dia inteiro!
A mentalidade é a seguinte: por que eu vou trabalhar 8 horas por dia, 6 dias por semana para ganhar 250 euros de salário se pinga a grana daquele meu primo distante que é peão de obra na Suíça todo mês?
Viva o Western Union!
MAIS QUE O KOSOVO: CLASSE ECONÔMICA
Além do Kosovo, o livro Classe Econômica tem histórias desse tipo aí misturando guerra, comunismo, macroeconomia e Geração Y em países como a Áustria, a Eslováquia, a Hungria, a Sérvia, a Croácia, a Bósnia, o Kosovo, a Macedônia, a Bulgária e a Grécia.
Se interessou na parada e quer escutar o livro no lançamento, se inscreve lá no Ubook.
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Papo reto: se você já é assinante naquele plano mensal, cancela e coloca esse anual que acaba valendo muito mais a pena.
Valeu falows e até o dia 8!