Tenho um carinho especial pela Espanha.
Fiz um intercâmbio de verão em Alicante quando tinha 18 e morei um semestre inteiro em Barcelona quando tinha 20.
Esse semestre de Barcelona foi especialmente interessante porque estava matriculado na escola de economia na Universitat Pompeu Fabra, uma das mais importantes daquele país.
E na Pompeu, o assunto mais popular das discussões entre alunos e professores era a CRISE.
Crise?
Quando fui a Espanha pela primeira vez no verão de 2008, essa palavra não existia.
A seleção local acabava de ganhar seu primeiro título em mais de 40 anos com um gol de Fernando Torres na final da Eurocopa em cima da Alemanha.
Além disso, não parava de subir prédio chique nas cidades litoraneas. Tá ligado na Barra da Tijuca? Agora imagina a Barra do tamanho de um país.
A população estava rindo à toa e cheia de dinheiro no bolso.
Se eu tivesse o pensamento crítico que tenho hoje, já saberia lá em 2008 que o negócio ia dar ruim.
Fiquei em Alicante entre maio e agosto e notei que ninguém trabalhava naquela porra.
Tudo bem que era época de férias.
Mas 3 meses de férias?
Não trabalhavam mas viviam de quê?
Especulação imobiliaria!
A BOLHA IMOBILIÁRIA DA ESPANHA
Bom, tudo começou em 1998 quando o presidente José Maria Aznar declarou a Ley del Suelo.
A Ley del Suelo foi o jumpstart de um dos maiores capítulos de especulação imobiliário das últimas décadas.
Ela transformou um monte de terra vazia que pertencia as prefeituras locais em empreendimentos imobiliários pro povão.
Sabe quem se deu bem nessa?
O presidente do Real Madrid Florentino Pérez!
Florentino é dono do Grupo ACS, uma empreiteira descomunal que ganhava quase 100% dos contratos de construção por lá.
Alguma semelhança com alguma empreiteira de rabo preso com o governo que você conhece?
Essa foi a época que ele tirou dinheiro do bolso para trazer os Galáticos: Figo, Ronaldo, Beckham, Zidane e cia.
Em 2002, Aznar lançou uma lei que diminuiria o direito dos trabalhadores.
Tipo essa lei de terceirização que tá rolando agora.
Com mais flexibilidade e menos burocracia no mercado de trabalho, os empresários começaram a contratar mais.
Resultado? O gráfico do desemprego baixou absurdamente.
Em 1995, 23% da população produtiva local não tinha emprego.
Esse número baixou para 9% em 2005.
A construção estava em alta e os salários no ramo eram muito atraentes.
Com isso, os jovens espanhóis mandaram a escola e a faculdade tomarem no cu e foram trabalhar de pedreiro.
O poder de compra da população aumentou e os juros estavam bem baixos depois que o país substituiu a peseta pelo euro.
O que todo mundo começou a fazer para aproveitar essa mamata? COMPRAR IMÓVEIS!
A Espanha construía mais do que França, Alemanha e Italia juntos e o preço dos imóveis não parava de subir.
De 1998 para 2005, o preço do metro quadrado na Espanha triplicou.
Se liga nessa foto que eu tirei junto com a minha host family do intercambio na Espanha em 2008 no auge do boom da construção.
Tá vendo aquele guindaste ali? Tinha uns 400 desses na cidade.
Sempre quando uma porra dessa acontece (e já aconteceu na Ásia do final dos anos 1990, na Islandia em meados dos anos 2000 e nos EUA também), é sinal de que tem algum fundamento errado na economia daquele país.
O FIM DO MILAGRE ECONÔMICO ESPANHOL
Lá pra 2005, a Espanha era a China da Europa e os economistas não paravam de falar do MILAGRE ECONÔMICO ESPANHOL.
Só que é o seguinte: O preço dos imóveis subiu absurdamente mas, em termos reais, o salário da galera meio que estagnou.
Tipo aqui no Rio,
Com salário relativamente baixo, a demanda cai né?
Nego para de gastar, certo?
Errado!
Os bancos foram lá e saíram distribuindo crédito para todo mundo.
Não só crédito imobiliário… nego pegava empréstimo barato para comprar carro, financiar férias, comprar barco e a porra toda com a ajuda das cajas.
Com o preço altíssimo dos imóveis, a população se via pegando empréstimo de 40 anos para viver num mini cubículo.
Tenho muito amigo otário aqui no Brasil fazendo isso HOJE EM DIA.
E ESTOUROU A BOLHA IMOBILIÁRIA
Deu aquela merda lá nos Estados Unidos, acabou o crédito, acabou a construção, as empreiteiras espanholas mandaram todo mundo embora.
Metade da população espanhola foi à falência.
Efeito dominó!
O país ficou na merda.
Senti isso na pela no segundo intercâmbio em Barcelona em 2010.
Nego saía da faculdade com diploma e mestrado e só conseguia arrumar emprego de barman ou de recepcionista de hotel.
O foda é que isso pode acontecer aqui no Brasil também, hein.
E vai começar pelo Rio de Janeiro…
Espera só a Olimpíada passar.
Quais são os motores da economia do Rio de Janeiro?
Petróleo e construção.
Ambos setores estão em baixa.
A Petrobrás tá na pior crise de sua história e o petróleo WTI não para de cair nos mercados mundiais.
E o setor de construção? Pergunta se o corretor da esquina tá conseguindo vender lançamento de apartamento novo?
Bolha imobiliária? Acho que sim, hein…
Resultado: muita gente vai ficar na rua.
E são pessoas que compraram casa própria durante a bonança do Brasil e têm prestação imobiliaria para pagar.
Esse pessoal, se ficar sem emprego, vai parar de pagar a prestação.
E os bancos vão ficar com essa pica na mão.
Não preciso dizer mais nada…
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