Antônio Ermírio de Moraes: a biografia do empresário do Brasil

Acabei de terminar o livro Antônio Ermírio de Moraes – Memórias de um diário confidencial de José Pastore (Editora Planeta).

já te adianto que esse livro tem que ser leitura obrigatória para todo estudante de economia, administração e de engenharia do Brasil… e também para todo profissional do mercado financeiro.

Irmão, só o prefácio escrito pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso já valeu os 40 contos que eu paguei pelo livro.

Já tinha ouvido falar na pluralidade do Grupo Votorantim, com empresas de mineração, papel, celulose, aço, alumínio, cimento e até um banco e uma corretora de valores em seu portfolio.

Mas eu nem sabia quem estava por trás disso.

Pergunta para a molecada da minha idade se eles ouviram falar em Antônio Ermírio de Moraes.

Aposto que pelo menos 8 entre 10 deles vão dizer que não.

Por quê?

Porque Antônio Ermírio de Moraes era um empresário low-profile.

A verdade é que ele tinha patrimônio de bilhões e bilhões de reais, gerou emprego para centenas de milhares de famílias, suas empresas eram responsáveis por uma boa fatia do PIB brasileiro.

Só que Antônio Ermírio de Moraes não gostava muito de aparecer.

Ao contrário de muitos dos grandes empreendedores e industrialistas da história do capitalismo moderno, Antônio Ermírio de Moraes veio de berço.

Seu pai tinha grana e seu avô era um grande latifundiário lá do Nordeste.

Apesar disso, ele não ficou com o boi na sombra mamando nas tetas da riqueza da família.

Conheço muitos herdeiros brasileiros que não fazem porra nenhuma da vida porque sabem que o passado da família vai bancá-los para sempre.

Antônio Ermírio de Moraes foi lá e correu atrás do prejuízo como se ele fosse pobre e não tivesse nenhum “backup plan”.

Outra parada que eu respeitei muito no livro foi o fato de que ele estava pouco se fudendo na hora de dar emprego para seus familiares.

Nada de paternalismo.

Se o cara era parente, ele tinha que provar que é bom trabalhando fora do Grupo Votorantim para depois entrar na empresa com experiência.

Sem essa de emprego garantido porque papai, vovô e titio são ricos.

Assim como eu, ele teve a oportunidade de estudar nos Estados Unidos e se virou por lá até sua formatura na Colorado School of Mines, aos 21 anos.

Lá pra década de 1950, Mines era referência em mineração e siderurgia assim como Wharton é referência em finanças e business.

Seus pais sabiam das coisas e colocaram o muleque para estudar no lugar certo e na hora certa.

Tá ligado como Stanford é o berço dos engenheiros de computação que produzem riqueza com startups de tecnologia nos Estados Unidos hoje em dia?

Na época da massificação da produção automobilística, do boom do consumo de eletrodomésticos e dos grandes projetos de infraestrutura no Brasil e nos EUA, o aço era rei!

E quem mandava na inteligência do aço no mundo e formava os melhores profissionais no assunto? A Colorado School of Mines!

O livro em si é uma viagem pela história econômica do Brasil, desde o início do século XX.

Cobre protecionismo.

Cobre o setor de mineração.

Cobre nosso problema crônico de hiperinflação.

Cobre o déficit educacional do Brasil.

Cobra as obras faraônicas de infraestrutura dos anos 1970.

Cobre o “duelo” entre energia hidrelétrica e nuclear na época do governo militar.

Cobre o crescimento da indústria nacional voltada para a exportação.

Cobre o estouro da dívida externa nos anos 1980.

Cobre as crises do petróleo.

Cobre a privatização da Vale.

Cobre origem dos juros altos do Brasil.

Cobre corrupção sistêmica.

Cobre populismo.

Cobre meritocracia.

Cobre especulação financeira.

Cobre a descoberta do pré-sal nos anos 1980.

Cobre o inchaço do BNDES.

Cobre as conquistas sindicais.

Cobre livre comércio.

Cobre Lula, Dilma, Collor, FHC, Tancredo Neves…

Ufa…. já viu que a pegada é forte né?

Papo reto, aprendi pra caramba nesse livro.

Deu para entender por que nosso país é tão retrógrado hoje em dia e deu para ver que as coisas não mudaram tanto da década de 1970 para cá.

Tem até algumas citações sobre os “economic hitmen” da década de 1970 que mergulharam o Brasil na crise da dívida externa (escrevi um review de um livro sobre isso há umas semanas atrás).

O que eu mais me chamou a atenção no livro inteiro foi o caráter do cara.

Dá para ver que ele era um cara simples, humilde, que pouco ligava à superficialidade das coisas.

O que importava para ele era o conteúdo da pessoa.

Foda-se se ele era um político engomadinho ou era o cara estava mal vestido da linha de produção.

Tratava todo mundo com o mesmo respeito e não ligava para status.

Criava riqueza. Trazia novos processos ao Brasil. Acreditava na tecnologia.

E, acima de tudo, era um cara que nunca deixou de acreditar no Brasil.

Morreu aos 86 anos e aposto que ele estava trabalhando quando bateu as botas.

Precisamos de mais gente assim no Brasil!

Ganhei um herói.

Pena que nunca tinha ouvido falar sobre suas conquistas quando Antonio Ermirio ainda estava vivo.

Com certeza trocaria as fotos que tenho com os “ídolos” Messi, Neymar, Jay Z e Mano Brown por um aperto de mão e um “muito obrigado” ao Antônio Ermírio de Morais.

Descanse em paz, mestre!

(Pode parar de ler depois da página 200, perda de tempo. Só tem coisa de política e da carreira dele dramaturgo… deu sono… mas as primeiras 200 são dignas de uma obra prima entre business books)

Se eu te convenci a ler o livro, clica aqui para comprar lá no Amazon e mãos à obra.

“

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